O padre Jorge Manuel das Candeias Carvalho, de 60 anos, está a celebrar este ano 25 de sacerdócio. Natural da freguesia de Santa Maria de Tavira, onde nasceu a 30 de novembro de 1961, frequentou a catequese e fez o crisma em 1971 na paróquia de Santa Maria.
Em 1972, quando já os seus pais tinham emigrado para França, tendo permanecido em Tavira a viver com a irmã que é 13 anos mais velha, falou com o seu pároco da altura, o falecido padre Jacinto Rosa, e resolveu entrar no Seminário de São José de Faro. À pergunta sobre a razão de ter tomado essa opção diz não saber responder.
No entanto, a permanência na instituição duraria pouco porque a mesma foi obrigada a fechar portas em 1974 na efervescência da Revolução de Abril. Em agosto daquele ano, os pais decidiram chamá-lo para passar férias junto deles. No entanto, as férias prolongaram-se porque a escola portuguesa não começou logo no final de outubro. Acabaria por ficar mesmo em Paris com os pais, ingressando apenas no ensino francês a 15 de janeiro de 1975, já com 13 anos.
Após ter realizado a escolaridade obrigatória em França, foi fazer uma formação profissional e começou depois a trabalhar em contabilidade. Ao mesmo tempo que trabalhava como contabilista durante o dia, à noite completava estudos naquela área.
O sacerdote testemunha que durante o tempo em que esteve fora do seminário, sobretudo depois dos 18 anos, foi “muito irregular” na prática religiosa, mas reconhece que andava “à procura de alguma coisa a nível religioso”. “Comecei por a andar à procura de conhecer outras realidades, outras religiões até. Quase aderi ao Judaísmo”, lembra, explicando que nada o satisfazia. “Pus várias vezes a hipótese de me casar, mas também percebi que não era isso que me agradava”, acrescenta.
A experiência de 15 dias num mosteiro católico em Landévennec, na bretanha francesa, marcou-o.
Os pais, entretanto aposentados, regressaram ao Algarve, mas o jovem algarvio permaneceu em França, tendo ido residir para Seine-et-Marne, na Diocese de Meaux, nos arredores de Paris. Ali teve oportunidade de se inserir mais na vida religiosa local e no final dos anos 80, princípio dos anos 90, estreitou contacto com aquela diocese francesa.
Ao fim de 10 anos de trabalho, já com 31 de idade, resolveu mudar a sua vida e regressar ao Seminário em 1991. “Senti que era naquela altura ou já não seria mais”, contou ao Folha do Domingo, explicando que o afligia “o sentimento de que tinha deixado alguma coisa para trás”. Entrou então no Seminário de Saint-Sulpice, Issy-les-Moulineaux, Paris, que acolhe seminaristas de todas as dioceses da região de Paris, mas de fora da cidade, e estudou lá 6 anos, tendo chegado também a fazer parte dos escuteiros. Conta o sacerdote que a principal dificuldade foi ter colegas “muito mais novos” por causa da diferença de maturidade.
Foi ordenado diácono em 1996 e padre a 15 de junho de 1997 na catedral diocesana de Saint-Étienne pelo bispo da altura da Diocese de Meaux, Louis Cornet, já falecido.
Naquela diocese – ligeiramente maior do que a do Algarve, mas com cerca de 500 paróquias – trabalhou durante cinco anos, no primeiro como vigário paroquial numa paróquia e, a partir do segundo, como pároco com mais um colega sacerdote em 14 outras paróquias associadas. Foi também membro de um conselho consultivo que ajudava o bispo a gerir a diocese.
Apesar de todos os anos regressar de férias ao Algarve, decidiu voltar definitivamente a Portugal por causa do agravamento do estado de saúde da mãe. Contactou então a Diocese do Algarve para perceber se o aceitaria, através do cónego José Pedro Martins, então vigário geral, que conhecia. O bispo do Algarve da altura, D. Manuel Madureira Dias, anuiu e as dioceses acertaram entre si os pormenores da cedência do sacerdote algarvio que ainda pertence à Diocese de Meaux.
Em 2002, o padre Jorge Carvalho foi então nomeado pároco das paróquias de Quelfes e Pechão e ali permaneceu até 2012, tendo sido responsável pela conclusão da construção do Centro Paroquial. “Foi uma boa experiência para reiniciar aqui em Portugal. Guardo muitas recordações e muitas saudades”, testemunha.
Em 2012, procurando responder à emergência de assumir a paróquia de Almancil após a inesperada morte do pároco de então, cónego Gilberto Soares Santos, o atual bispo do Algarve nomeia-o para lá, onde permanece até hoje. “Só tinha cá vindo no lançamento da primeira pedra desta igreja”, lembra, referindo-se à matriz inaugurada em 2017, obra que, sendo um projeto do seu antecessor, assumiu e levou a cabo. “O cónego Gilberto pediu-me para vir e foi a primeira e a única vez que vim a Almancil, antes de ser nomeado pároco”, complementa.
O sacerdote faz “um balanço positivo” destes 25 anos e diz que “não mudaria nada” daquilo que fez. “Faria o mesmo. Não quer dizer que tenha sido um percurso sempre fácil, isso não. Mas acho que Deus esteve sempre a meu lado, sobretudo nos momentos mais difíceis”, declara.
No dia do aniversário da sua ordenação sacerdotal, a efeméride foi assinalada na Eucaristia a que presidiu na igreja matriz de Almancil.
Padre Jorge Carvalho celebrou 25 anos de sacerdócio, os últimos 20 no Algarve