
Um dos três jovens portugueses que participou na reunião pré-sinodal com o papa para preparação do Sínodo dos Bispos que está a decorrer em Roma, alerta que o “verdadeiro sínodo” só ocorrerá quando permitir “mudar corações”.
Em declarações ao Folha do Domingo, Tomás Virtuoso, que representou na reunião pré-sinodal o Secretariado Internacional das Equipas Jovens de Nossa Senhora, exorta “cada católico no seu coração, no seu dia-a-dia, na fé diária que tem” a “fazer dentro dele um próprio «sínodo»”, ou seja, a “olhar para a sua vida e perceber que relação é que tem com o mundo, com a fé e com os outros e o que é que tem que mudar para chegar com mais verdade aos outros”.
Ainda assim, o jovem de 25 anos diz ser “fundamental” que a 15ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos traga a mudança para uma “mentalidade sinodal” que permita ao jovem “deixar de ser um consumidor passivo das propostas que a Igreja vai fazendo” para “passar a ser um protagonista ativo da vida da Igreja”, de forma a assumir mais “o seu caminho e a sua história”.
Tomás Virtuoso defende que a mudança deve implementar “uma Igreja menos de massas e mais de um para um”, que leve à criação de “processos claros de acompanhamento” para que cada jovem se sinta “acompanhado na sua vida”, através de “alguém que está disposto para isso”.
Virtuoso considera assim ser “importante não infantilizar os jovens”. “Um dos problemas da Igreja é que se infantiliza em excesso os jovens. Muitas vezes deixa-se o jovem num caldo de infantilização que o desresponsabiliza, que lhe tira exigência e perspetivas até de vida e de projetos e uma boa ambição. Se há alguma coisa que é preciso fazer é exigir mais do jovem. Acredito numa Igreja que, porque acolhe mais o jovem, exige mais dele”, sustentou.
O jovem alerta que “se há um erro que este Sínodo pode cometer é institucionalizar ou teorizar demasiado”. Por outro lado, Tomás Virtuoso, que realça o Sínodo como “espaço de discernimento” para a Igreja “conseguir olhar para os sinais dos tempos e para aquilo que o mundo vai apresentando como necessidades”, reconhece que a Igreja não pode “ir atrás daquilo que o mundo a cada altura está a pedir” porque “o mundo pede coisas diferentes todos os dias”.
Ainda assim, o jovem garante que “foram dados grandes espaços para ouvir pessoas que estão fora [da Igreja]”. “Se queremos chegar a toda a gente temos de querer ouvir toda a gente e dar espaço a toda a gente para falar”, afirmou, assegurando que “a primeira parte do documento de trabalho [pré-sinodal] é extremamente representativa daquilo que são as opiniões dos jovens no mundo inteiro”.
Tomás Virtuoso, que foi o formador do primeiro encontro de preparação dos jovens algarvios para a próxima Jornada Mundial da Juventude com o papa Francisco, pediu-lhes que vão acompanhando o Sínodo, que tem como tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’ e que rezem por ele.
O orador, que já tinha vindo o mês passado falar na Assembleia Diocesana da Igreja algarvia sobre “Os jovens e a Igreja”, considerou este acontecimento na vida da Igreja como uma “oportunidade”. “Uma oportunidade para eu crescer na minha fé e perceber o que é que a Igreja me está a pedir a mim, jovem comprometido com a vida da Igreja, que quero levar aos outros a fé. Esta é uma oportunidade que nós não podemos perder. Com o Sínodo, o jovem é chamado a ser protagonista, é ele que tem a voz. O problema é que nós não podemos deixar que quando nos põem o microfone à frente a nossa resposta seja o silêncio. Que isto não passe ao nosso lado”, pediu.