Alguns dos participantes do primeiro Convívio Fraterno no Algarve, realizado de 03 a 05 de março de 1984 na Casa de Retiros de São Lourenço do Palmeiral, contaram ao Folha do Domingo que lembrança guardam do encontro e que significado e consequências teve a participação nele.

Eurico Palma, oriundo na altura da paróquia serrana de Giões, no nordeste algarvio, recorda “todo o convívio como se fosse hoje” e fala da “semente” lançada na Diocese do Algarve que, diz, “germinou e continua a germinar, dando frutos até aos dias de hoje”.
Durante cinco anos, a equipa que coordenou os Convívios Fraternos no Algarve veio de fora e só em 1988 se constituiu na diocese uma coordenação autónoma que teve Eurico Palma como primeiro coordenador. “Vivi muitas experiências de fé, como membro da equipa e como coordenador de muitos Convívios”, conta, explicando que “as melhores recordações são as dos momentos vivenciados com centenas de jovens que passaram por esta experiência de fé, não só os Convívios em si, mas também os pós-convívios e os muitos encontros de formação na fé que foram acontecendo”.
Mas o vice-presidente da Câmara de Tavira garante que “a grande lembrança é a marca de Jesus Cristo”. “Chegou devagarinho e, de rompante, tomou-me nos braços e caminha comigo todos os dias da minha vida. É alento, sentido de vida e força no caminhar das agruras da vida”, testemunha.
Eurico Palma assegura que “os Convívios foram e são um tempo extraordinário de crescimento cristão, uma experiência revigorante de encontro com Deus que deixa marcas profundas que certamente ninguém esquece”. “Esta experiência marcou-me para a vida e marcou a vida de muitos jovens pelos quatro cantos do Algarve. Cada momento vivido foi uma experiência de fé, um ímpeto no crescimento de uma maior consciência cristã e um desafio constante no encontro com Jesus Ressuscitado”, sustenta.
“O Convívio Fraterno fez com que «a luz pequenina» crescesse e amadurecesse o meu ser de homem, naquilo que são os valores cristãos com que pauto o meu viver no dia-a-dia. Esta experiência de fé impeliu-me para uma maior consciência cristã e fez-me tomar decisões que marcaram e marcam a minha vida”, prossegue.
Aquele participante confirma ainda que “os Convívios também foram o «pontapé de saída» para a Pastoral Juvenil da diocese”. “Relembro a irmã Beatriz [Santos] que coordenou a equipa. Foi nesse ambiente dos Convívios Fraternos e de trabalho na Pastoral Juvenil que conheci a minha mulher, Paula Palma, com quem partilho o caminho do dia-a-dia e espero partilhar o resto da minha vida”, complementa, acrescentando: “na vida pessoal – como casal, como pai e, agora, como autarca – procuro vivenciar os valores do Evangelho e fazer com que os valores cristãos sejam uma realidade nas sendas de um caminho que se quer com valores, num mundo que todos os dias nos desafia para que a cruz seja caminho”.

Também Célia Mangas diz que apesar de decorrido todo este tempo “as lembranças ainda estão muito vivas” na sua memória. “O Convívio Fraterno é algo que não se consegue explicar, só mesmo vivendo, pois para mim foi uma experiência única. Recordo que, à chegada, tudo era estranho, mas ao mesmo tempo tinha uma grande curiosidade, pois tudo era novidade. Apenas sabia que era uma aventura a não perder e que tinha de aproveitar cada momento. Só tenho de agradecer a quem me convidou”, refere a participante oriunda da paróquia de Estômbar que hoje é dirigente do Corpo Nacional de Escutas (CNE) e catequista.
“Durante os dias do Convívio fui sentido como Deus estava presente na minha vida e como, muitas vezes, o deixara de lado e não lhe dera o devido valor. As reflexões que fazíamos em grupo, fizeram-me pensar na minha vida, no valor que ela tem, na pessoa que sou, para mim e para os outros”, prossegue, acrescentando: “o Convívio Fraterno foi uma experiência de grande alegria, paz, partilha, união, amor e reflexão e de grande vontade de mudar o mundo, levando Jesus mais perto do meu coração, sendo essa uma das maiores riquezas que trouxe”.
Célia Mangas conta ainda terem sido criados “laços de amizade muito fortes, como uma verdadeira família”, que ainda se mantêm.

João Vasco Reis também garante guardar “todas” as memórias e considera ter sido “um autêntico «choque» de chamada à fé”, para todos os participantes “mais ou menos já comprometidos, cada um à sua dimensão, com a Igreja”. “Aquilo foi, verdadeiramente um «choque carimbado» para desbravar os caminhos da conversão e da perseverança”, considera.
Oriundo da paróquia de Silves, o agora dirigente do CNE, diz que a experiência “constituiu um importante contributo para a caminhada cristã, como jovem adulto”. “Acabou por ser uma espécie de «guião», de uma caminhada, árdua, mas harmoniosa, e uma caminhada que não se fazia sozinho. Muito pelo contrário: criou-se um elo, ou elos, de comunidade, de testemunho, de irmandade, contagiante em toda aquela malta extraordinária de todo o Algarve, e de uma generosidade inigualável”, sustenta, explicando que as amizades se mantiveram “para sempre”, não obstante, “pelas contingências da vida, ter perdido o rasto de muitos dos participantes”. “De vez em quando ainda há reencontros inacreditáveis, e com notícias ainda mais felizes sobre o paradeiro de outros convivas. E, muitos deles, sempre na comunhão e na vivência da fé”, acrescenta.
Vasco Reis contextualiza que se vivia a “problemática” década de 80, uma “época muito complicada, social e economicamente, ao nível sociológico, em termos de crise de valores, de emoções, decisões e indecisões, de padrões de vida, de dramas”.
Chamado pelo sacerdote que quis trazer o movimento para o Algarve, o padre Luís Gonzaga, para fazer parte da equipa coordenadora, João Vasco Reis conta ter sido “deveras gratificante” ter feito parte dela “com muitos momentos e muitos jovens felizes”. “Foram muito importantes os Pós-Convívios, as presenças nos encerramentos dos Convívios seguintes, os encontros nacionais de convivas em Fátima”, realça.

Também Isabel Camilo confirma que “o Convívio Fraterno foi uma oportunidade e uma experiência única”. “Foi um encontro com Cristo e comigo mesma. Guardo no coração esses três dias inesquecíveis que me ajudaram a viver mais intensamente a minha fé e a testemunhá-la junto dos que me rodeiam”, desenvolve aquela dirigente do CNE, pertencente à paróquia de Estômbar.
A proposta do Movimento dos Convívios Fraternos destina-se a jovens com 17 anos ou mais que vivem três dias de retiro que os convida a uma reflexão séria.
Foi há 40 anos que se realizou o primeiro Convívio Fraterno no Algarve