Pe_augusto_britoO padre Augusto de Brito, falecido na última noite, recordava em 2007, em declarações ao Folha do Domingo, o seu percurso vocacional, considerando ser uma vocação tardia mas plenamente assumida.

O sacerdote destacava que, quando se ganha “consciência do que é ser cristão”, adquire-se também uma sensibilização pelas questões de justiça social. “Na minha empresa havia muitos casos de injustiça”, afirmava, lembrando os tempos em que trabalhou, no Porto, na antiga TLP (atual PT). Foi então que se tornou dirigente sindical mas garantia que começou a intervir “unicamente levado pelo Evangelho” e não foi militante de qualquer partido.

“Toda a minha caminhada dentro da Igreja levou-me a perder o medo de expor o que pensava. Acabei por me tornar dirigente sindical (Sindicato dos Telefonistas do Norte ligado pela Federação ao Sindicato das Telecomunicações) dentro da empresa e, mais tarde, convidaram-me para uma lista da Federação das Telecomunicações e depois para o Conselho Nacional da CGTP – Intersindical, fazendo parte dos chamados «não alinhados» que não estavam conotados com qualquer partido”, explicava.

Divergências numa campanha eleitoral acabaram por ditar o seu afastamento da estrutura sindical. No entanto assegurava que a sua passagem pelo mundo do trabalho foi o que o fez despertar para a vocação sacerdotal. “Comecei a sentir que a Igreja não entendia o mundo do trabalho”, testemunhava.

Confessando que se identificou com a ideologia comunista mais revolucionária, unicamente no que se refere aos direitos dos trabalhadores e no direito ao trabalho, advertia que esteve sempre ligado à Igreja. “Dentro da CGTP havia muita gente da LOC e da JOC que nunca deixaram a Igreja, mas que tinham uma postura muito diferente de posturas de outros sindicalistas”, explicava, acrescentando que quando deixou o sindicalismo sentiu um “grande vazio”. “Acabava o meu horário e ficava sem nada para fazer e decidi voltar a trabalhar na paróquia a que pertencia e voltar a estudar”, sustentava o padre Augusto de Brito.