As associações de moradores da Praia de Faro contestaram hoje as opções de realojamento com rendas sociais apresentadas pela câmara para dar resposta aos moradores de casas clandestinas, cuja demolição já foi calendarizada pelo Ministério do Ambiente.
O concurso para as demolições em cinco ilhotes (Faro e Olhão) e na ilha Deserta (Faro) está em fase de adjudicação, sendo o próximo passo a demolição de casas de veraneio na Praia de Faro e de segunda e primeira habitação nas restantes ilhas, prevendo-se que só em 2015 se avance com a demolição e realojamento das famílias residentes na Praia de Faro.
Carlos Flor, de 47 anos, pescador na Praia de Faro desde os 12 anos e presidente da Associação para a Defesa e Desenvolvimento da Praia de Faro (APRAFA), disse à agência Lusa que quando a sua casa for demolida será realojado numa casa onde terá de pagar renda social, ou seja, de acordo com o rendimento.
“As pessoas da praia não têm grandes fortunas, o que têm está ‘enterrado’ na praia. O que é que eu vou deixar aos meus filhos? Nada! Quando hoje tenho uma casa!”, lamentou o presidente da mais antiga associação de moradores da Praia de Faro.
A opinião é partilhada pelo presidente da Associação de Moradores da Praia de Faro Nascente, Gilberto Silva, que defende que as casas que vão ser demolidas deveriam ser avaliadas e que o valor que lhes fosse atribuído serviria para abater parte do valor das novas casas.
Sobre a proposta de avaliação do património com impacto no custo das rendas das casas de realojamento, Carlos Flor disse duvidar que venha a ser considerada: “eles [a Câmara] dizem que o valor da casa não pode reverter porque não podemos ser ressarcidos por uma coisa clandestina”.
Esta semana, o presidente da Câmara de Faro reiterou que a autarquia está a estudar a possibilidade de realojar os pescadores da ilha no parque de campismo da praia, encerrado ao turismo desde 2003, proposta defendida pela Associação de Moradores da Praia de Faro Nascente desde 2008.
Gilberto Silva contou que a proposta foi sempre negada “porque a [Sociedade] Polis diz que ninguém pode ficar na praia porque é zona de risco” e que esse é o motivo pelo qual a câmara vai comprar lotes na zona do Montenegro, onde serão construídas as casas de realojamento.
Após uma reunião, na terça-feira, com o presidente da Câmara de Faro, Carlos Flor contou à Lusa que os lotes que a autarquia vai adquirir não chegam para realojar todas as pessoas.
“Segundo me disse [o presidente], não tem terreno para as pessoas todas, o lote dá para cerca de 60 habitações e nós somos 120 famílias na parte nascente e poente”, afirmou, alertando para o facto de o levantamento das famílias afetadas feito em 2008 estar desatualizado.
A situação das demolições e realojamento está também a causar mal-estar nas famílias afetadas que não percebem o motivo por que as demolições estão previstas apenas para as zonas nascente e poente da ilha de Faro.
A zona central da ilha está desafetada do Domínio Público Marítimo, concessionada à autarquia, é aquela onde está a maior parte das habitações legais, equipamentos públicos e desportivos, restaurantes e cafés da Praia de Faro.
“Dizem que as pontas estão em risco, mas o alcatrão fica lá todo na mesma. Aqueles mamarrachos, prédios grandes que estão lá, vão continuar. Temos casas e alcatrão quase dentro da água! Há aqui qualquer coisa que não bate certo”, disse Carlos Flor.