Foto © Samuel Mendonça

A irmã Ângela Coelho disse em Portimão que a aprovação da canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto é o reconhecimento da Igreja de que a espiritualidade de Fátima faz santos.

“Para a mensagem de Fátima é o «carimbo» da Igreja a dizer que esta espiritualidade faz santos. Quem vive a espiritualidade de Fátima, se a viver em intensidade, tornar-se-á santo como o Francisco e a Jacinta. Podem não ser santos de altar – porque não temos todos essa vocação –, mas sem dúvida que quem viver como o Francisco e a Jacinta será como Cristo – Cristiforme – porque eles também o foram”, assegurou a postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta Marto.

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A religiosa da Aliança de Santa Maria, que regressou nos passados dias 24, 25 e 26 de março ao Algarve para contar o que aconteceu em Fátima há cem anos, acrescentou na sua palestra na igreja de Nossa Senhora do Amparo, no dia 25 de março à noite, que os principais traços da espiritualidade dos pastorinhos – que conferiram uma “dimensão apostólica” à sua vida –, eram o amor à Santíssima Trindade (Deus), à eucaristia, a Nossa Senhora e à Igreja.

A irmã Ângela Coelho garantiu fazer pleno sentido falar da “conversão dos pastorinhos” que aceitaram “mudar o centro da vida”. “Os pastorinhos não nasceram santos. Nasceram como nós. É a coisa mais importante que vos estou a dizer”, afirmou, explicando que as crianças “começaram a amar Deus”, a partir da aparição do anjo de Portugal em 1916. “Eram crianças «em fogo». Estavam sempre apaixonadas por Deus e é isso que nos transmitem. Há uma altura em que, levados pelo anjo, ganham grande amor a Jesus na eucaristia”, contou.

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Perante uma assembleia de cerca de 200 pessoas, a consagrada explicou que os pastorinhos “se perceberam muito amados por Deus”. “Entendemos quem era Deus, como nos amava e queria ser amado”, afirmou, citando a irmã Lúcia, para demonstrar que as crianças entenderam “que Deus é o centro”. “Sobretudo o Francisco, que fica tocado por Deus. O Francisco era um menino centrado em Deus que fica apanhado por consular a Deus. Isto era a vida de Francisco e era a partir de Deus que ele tomava todas as decisões e que ele estabelecia as prioridades da sua vida”, sustentou.

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A postuladora realçou que os pastorinhos “marcam a história da santidade na Igreja”, lembrando que o dia da sua beatificação, no ano 2000, “representou uma mudança de uma norma da Igreja”. “A Igreja, até ao Francisco e à Jacinta, tinha uma regra que não permitia a canonização de pré-adolescentes, a não ser que tivessem morrido mártires”, recordou, considerando que a reflexão em abril de 1981 sobre a santidade na infância “é empurrada pela santidade de Francisco e da Jacinta”.

A irmã Ângela Coelho destacou assim que os dois santos serão modelos, particularmente da infância. “Para infância tem uma grande importância porque são as primeiras crianças a ser modelos das crianças. Vamos ter no Francisco e na Jacinta dois grandes modelos que impulsionam a vida da santidade das nossas crianças, dos nossos jovens, das nossas comunidades. São dois santos incríveis que podem ajudar imenso a nossa pastoral da infância. Este impacto que o Francisco e Jacinta têm na pastoral da infância é extraordinário e seremos muito inteligentes em Portugal se percebermos isto mesmo, o potencial evangelizador nesta etapa da infância, adolescência e juventude em que é preciso cuidar tanto”, afirmou, destacando o potencial que a canonização poderá trazer para a pastoral em geral. “Espero que todas as igrejas de Portugal, onde há uma imagem de Nossa Senhora da Fátima, coloquem as imagens dos pastorinhos”, completou.

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A postuladora testemunhou que a “fama de santidade” dos irmãos Marto “se espalhou a todos os cantos da Terra”. “Isto é o maior critério de santidade que podemos dar aos pastorinhos”, considerou, contando que chegaram à postulação Fátima relatos de graças em países como os EUA, a Austrália ou a Tailândia, para além de “imensos países de África”. “Fui estudando vários casos, mas a Congregação da Causa dos Santos dizia que nenhum tinha as caraterísticas de excecionalidade e de inexplicabilidade científica até chegarmos ao caso que ocorreu em 2013 no Brasil com uma criança. Achei o caso muito interessante, fui estudando e pediram para aguardar algum tempo para ver se a cura era permanente. O ano passado esta criança ainda não tinha sintomas e introduzimos a causa, sendo que passou por várias comissões durante meses: a comissão dos médicos, a dos teólogos e a sessão dos cardeais e dos bispos”, contou.

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Reconhecendo que, para Portugal, a importância da canonização “é imensa porque são santos portugueses”, considerou que “Fátima vai sublinhar a importância, a atualidade e o futuro que a sua mensagem tem”. “Este centenário trouxe um dinamismo muito grande ao estudo de Fátima, à celebração de Fátima, à vivência de muitos pedidos que Nossa Senhora fez. Estamos a aplicar à mensagem um dinamismo por esta ocasião de 2017 que penso que vai continuar e o Francisco e Jacinta vão ser, cada vez mais, um veículo de transmissão”, acrescentou.

Evocando a carta pastoral dos bispos relativa ao centenário das aparições lembrou o que Fátima representa para Portugal. “É um dos traços identificadores do nosso ser católico”, afirmou, lembrando que a mensagem de Fátima marca “um pouco” a identidade dos cristãos em Portugal. “Em Portugal, a forma de sermos católicos, pertencendo à única Igreja de Cristo, passa um bocadinho por esta espiritualidade de Fátima”, sustentou.

Palestra da irmã Ângela Coelho no dia 25 de março de 2017:

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