
Um dia após o anúncio da aprovação da canonização de Francisco e Jacinta Marto, a postuladora daquela causa regressou ao Algarve nos dias 24, 25 e 26 de março a convite da paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Portimão para contar o que aconteceu em Fátima há cem anos.
Lembrando que “a lógica da prepotência, do mais forte, do mais arrogante e do melhor” gera “competição, ciúmes e inveja”, a irmã Ângela Coelho considerou que “Deus gosta de escolher o pequeno e a pequenez para confundir os fortes e os prepotentes deste mundo”. “É para percebermos que estas coisas são de Deus e não são com a nossa graça. Deus escolheu o nosso país que era minúsculo porque se consegue ver que esta difusão da mensagem não se deve às nossas estratégias políticas e económicas (que não as tínhamos), mas à sua ação. Por isso, escolheu um país pequenino (já tinha sido grande, mas naquela época não o era), dentro dele foi escolher a mais minúscula das suas terras – Fátima –, num lugarejo perdido, desprovido de beleza, e dentro desta terra pobre ainda foi escolher as crianças mais pobres e analfabetas mesmo para percebermos que a força, a graça e a potência é de Deus”, sustentou.

A irmã Ângela Coelho apresentou na sexta-feira (24 de março) à noite uma palestra no auditório do Museu de Portimão na qual apresentou a mensagem de Fátima nos seus grandes fundamentos teológicos a uma assembleia de cerca de 170 pessoas que lotou o espaço. O padre Francisco Ferreira de Campos, da paróquia de Nossa Senhora do Amparo, explicou ao Folha do Domingo que a plateia era constituída maioritariamente por católicos e por alguns elementos das periferias da Igreja.
A religiosa da Aliança de Santa Maria, que apresentou Fátima como “escola de santidade, cujo objetivo é a intimidade com Deus”, referiu-se à sua “dimensão místico-profética”. Abordando, por exemplo, a “dimensão mística do aproximar a Cristo” – a “intimidade com Deus” à qual Fátima convida –, explicou também como é que isto se concretiza na vida do crente.

A consagrada aludiu também à “dimensão profética de Fátima”. “É o apelo a sentirmo-nos responsáveis pela história, não só pela dimensão escatológica, mas responsáveis pelos outros em ordem à sua salvação e também pela construção por exemplo da paz, ou seja, a história temporal no momento em que vivemos”, explicou em declarações ao Folha do Domingo a postuladora que abordou também a dimensão mariana na mensagem de Fátima como um “sublinhado da revelação pública”.
No sábado (25 de março) orientou a oração do rosário na igreja de Nossa Senhora do Amparo com um grupo de leigos adultos e um encontro com jovens, no qual falou sobre Fátima e o seguimento de Cristo ao estilo mariano. À noite proferiu uma palestra (áudio disponível abaixo) naquela igreja para cerca de 200 pessoas em que abordou mais as histórias e as vivências dos pastorinhos segundo a sua própria espiritualidade.

No domingo (26 de março) apresentou uma terceira palestra a outros tantos participantes em que se referiu a um aspeto a que fez referência no sábado à noite: a “vivência Cristiforme dos pastorinhos”. A irmã Ângela Coelho partiu de dois exemplos concretos dos irmãos Marto para evidenciar como eles se configuraram com Cristo. “O grande desafio que eles têm para nós é levar-nos à configuração com Cristo”, acrescentou.
Partindo de uma frase de Jacinta – “faço como Nosso Senhor” –, a conferencista demonstrou como o seu agir configurou a sua vida em vários aspetos: “em viver a vida como oferta pelos outros, em perceber e assumir o seu papel na história da salvação e, sobretudo, a configuração com o mistério pascal de Cristo”. “A morte da Jacinta é muito parecida com a morte de Cristo, configura-se mesmo nalguns aspetos”, destacou a irmã Ângela Coelho.

Relativamente ao Francisco, abordou a “centralidade de Deus na sua vida”, evidenciando que “Deus é o critério a partir do qual estabelece todas as prioridades”.
Dos pastorinhos, a religiosa apresentou “a sua escola que é o sacrário, a sua mestra que é Nossa Senhora e a sua grande lição que é o rosário”, para se perceber até que ponto estas caraterísticas os levaram à configuração com Cristo.
A irmã Ângela Coelho já tinha estado no Algarve em outubro passado, na assembleia da Diocese do Algarve, para apresentar Fátima como uma “janela de esperança que Deus abriu”.
Palestra da irmã Ângela Coelho no dia 25 de março de 2017: