
A responsável da catequese para pessoas portadoras de deficiência da Igreja Católica italiana veio ao Algarve na passada sexta-feira explicar o trabalho que está a ser feito naquele país.


A irmã Veronica Donatello partilhou os “três grandes passos” que, partindo da experiência nas dioceses, foram dados em Itália e que incluíram o trabalho de formação das paróquias e dos padres e seminaristas no âmbito moral, canónico e sacramental e com os catequistas para elaboração dos materiais pedagógicos.
A religiosa da Congregação da Suore Francescane Alcantarine explicou que o primeiro passo foi combater o “preconceito do entendimento” em relação àquelas pessoas. “Pensamos na pessoa [com deficiência] como incapaz de compreender e reduzimos a fé é um ato racional. Um dos maiores erros em relação à fé é achar que ela deve ser compreendida”, advertiu, criticando que os portadores de deficiência sejam vistos a partir da limitação que têm – como “os cegos, os surdos ou os autistas” – e se pense que “têm uma «vida minúscula» dentro da comunidade”. “Não os vemos como pessoas completas como todos nós”, lamentou no encontro que teve lugar no salão da paróquia de São Luís, em Faro.

Desde há sete anos responsável da Conferência Episcopal Italiana pelo trabalho na área da deficiência, a irmã Veronica Donatello desafiou então a olhar para aquelas pessoas “com o olhar de Deus”. “Isto é importante para criarmos uma comunidade que seja geradora da vida, que não se torna estéril”, sustentou, acrescentando que o desafio passa por formar uma verdadeira comunidade, ajudando a paróquia a tornar-se “uma Igreja para todos”. “Isto provocará uma alteração profunda da cultura”, assegurou.

A consagrada disse que o segundo passo foi o de combater o “preconceito religioso”. “Muitas pessoas pensam que a pessoa com deficiência, particularmente as pessoas que tem deficiência intelectual, não tem uma dimensão transcendente, religiosa”, lamentou, garantindo o contrário e que aquelas pessoas “podem receber os sacramentos”. “Em Itália, a maioria dos padres já administra os sacramentos”, prosseguiu, lembrando que naquele país existem 226 dioceses e que “em 16 regiões, 13 já estão cobertas” por aquele serviço.

“Participariam numa catequese durante três anos em que a participação que vos pedissem fosse desenhar e estar quieto?”, interrogou, explicando que o trabalho na pastoral da deficiência passa pela colaboração com as famílias. “Não devemos nunca decidir pelas pessoas que têm deficiência”, defendeu, evidenciando que “cada pessoa tem uma «porta» diferente por onde Jesus entra”. “Não nos cabe a nós determiná-la”, alertou, rejeitando abordagens com “linguagem infantil com as pessoas que têm uma deficiência intelectual ou cognitiva porque não são crianças”.

A irmã franciscana destacou assim a importância do acolhimento, explicando que, quando uma pessoa com deficiência chega à paróquia, a apresentação aos restantes paroquianos não deve ser feita partindo da sua diferença.


Por fim, a irmã Veronica Donatello, que trouxe muitos materiais utilizados na catequese com crianças portadoras de deficiência, explicou que o terceiro passo tem sido o de “desenvolver uma pedagogia múltipla” com os catequistas. Garantindo ser apenas uma parte dos materiais usados em Itália, a religiosa explicou que aqueles “não são instrumentos profissionais”, mas resultaram da partilha de experiências entre as dioceses. A irmã deu como exemplo a ideia de crianças dos sete aos nove anos de criação de um “evangelho tátil” para ajudar uma colega cega. Um outro trabalho de readaptação do evangelho foi feito com “imagens e palavras simples”.

“O que é importante é encontrar a melhor forma de transmitir o evangelho”, realçou, acrescentando que numa celebração a comunicação com estas pessoas pode ser feita “de forma visível com símbolos”. Nesse sentido, abordou a vantagem de haver sinalética na própria igreja.

A irmã Veronica Donatelo, que trabalha com uma equipa de cerca de uma dezena de pessoas, explicou que aquele serviço da Igreja italiana serve para “fazer circular a informação como uma plataforma de comunicação”. A franciscana explicou que até agora têm trabalhado com o envolvimento dos bispos só no âmbito da catequese, mas no próximo ano querem alargar a ação a áreas como a escola, o trabalho e a universidade.

A religiosa, que exortou à partilha de informação e conhecimento entre paróquias, explicou que o contacto com a deficiência faz parte da sua vida desde que nasceu. A irmã Veronica Donatello contou ter 11 pessoas com deficiência na família, incluindo os pais que são surdos e a irmã que tem deficiência intelectual e sofre de epilepsia.
No encontro, o bispo do Algarve desejou que as pessoas presentes possam ser os “mensageiros” do que escutaram. “Aqui no Algarve, as próprias famílias é que estão a levar isto para a frente porque já vivem essa experiência e tem uma riqueza muito grande”, afirmou D. Manuel Quintas.
A iniciativa foi promovida pelo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência que tem estado a levar este testemunho da irmã italiana a todas as dioceses de Portugal.




