Foto © Samuel Mendonça

A greve dos médicos da região Sul e ilhas, que está a decorrer hoje, provocou o encerramento do bloco operatório do Hospital de Faro após a realização de uma “cirurgia urgente”, o que levou a que várias cirurgias tivessem que ser adiadas, enquanto nos cuidados de saúde primários, a adesão dos médicos no Algarve está nos 80%.

A informação foi avançada hoje aos jornalistas, cerca das 13h, pelo secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha.
O presidente da Federação Nacional dos Médicos, Mário Jorge, considerou que a adesão “mostra que a grande maioria dos médicos está descontente e apoia o sindicato nas suas reivindicações”.

Segundo adiantou, os médicos pedem “bom senso” ao Governo e alertam que, sem essa condição, “um processo conflitual se vai arrastar”.
Os médicos manifestam “disponibilidade total” para um acordo mas que “esteja sistematizado e quantificado” para não andarem a participar em “mascaradas negociais”.

Em declarações à Lusa, fonte do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) adiantou que, das seis salas operatórias existentes em Faro, apenas uma funcionou, para a realização de uma cirurgia urgente, por haver suspeitas de um tumor no ovário, tal como em Portimão, onde a única sala que funcionou foi para fazer uma nefrectomia (remoção de rim), cirurgia assegurada pelos serviços de Urgência.

Dezenas de cirurgias tiveram assim que ser adiadas no Algarve, devido à greve dos médicos.

Apesar de ainda não ter conseguido reunir dados concretos acerca do número de consultas e de internamentos cancelados, João Dias sublinhou que há uma adesão “muito elevada” dos médicos, o que levou à quase paralisação de especialidades como Oftalmologia, Cirurgia e Cardiologia.

À entrada para as consultas externas, a Lusa falou com uma utente, que não se quis identificar, mas que revelou ter tido uma consulta de Neurocirurgia desmarcada, lamentando não saber agora quando poderá ser vista por um especialista para o tratamento de uma hérnia. “Já tinha esperado nove meses por uma ressonância, que fiz no mês passado, e anteontem ligaram-me do hospital a dizer que tinha consulta hoje”, contou, sublinhando que o caso é “relativamente urgente”, pelo que “precisava mesmo da consulta de hoje”, desmarcada devido à greve dos médicos.

Já Ionel Pribeagu, de 57 anos, natural da Roménia, veio de Quarteira para uma consulta de Cirurgia, devido a uma apendicite, mas teve também que voltar para trás, depois de ter esperado várias semanas pela consulta. “É mau porque tenho que trabalhar mesmo doente e não posso perder tempo, além do dinheiro que gasto em gasolina para vir aqui”, contou à Lusa o romeno, a viver em Portugal há doze anos.

A Lusa tentou obter dados de adesão à greve junto do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), mas fonte da administração disse que não iriam ser revelados números.

Já no centro de saúde de Vila Real de Santo António, os utentes depararam-se hoje de manhã com situações distintas, consoante, com os utentes da Unidade de Saúde Familiar (USF) Esteva a serem, no geral, atendidos, constatou a Lusa.

Situação distinta afetava alguns dos utentes da USF Levante, que se encontra localizada no outro lado do edifício do centro de Saúde de Vila Real de Santo António, onde a Lusa encontrou alguns utentes afetados pela paralisação. “Uma das funcionárias disse-me que dois médicos tinham feito greve e só um deles estava a trabalhar. Infelizmente, um dos que aderiu à greve é o meu médico de família e vou ter que remarcar a consulta para outro dia”, lamentou uma utente.

Por seu turno, Carla Pereira criticou a falta de informação sobre a greve dos médicos, considerando a própria unidade de saúde “devia avisar quem tem consultas marcadas” de que os médicos poderiam não comparecer ao serviço. “Assim, já sabíamos que poderíamos ter ou não ter consulta e, perante essa possibilidade, decidir se queríamos marcar logo a consulta para outro dia e evitar deslocações e esperas desnecessárias”, disse.

A greve foi convocada pelo SIM e Federação Nacional dos Médicos (FNAM) face à ausência de resposta do Governo às propostas dos sindicatos, que se prendem com redução de horas extraordinárias anuais obrigatórias (matéria em que houve acordo), as chamadas horas de qualidade (durante a noite), redução do trabalho de urgência (de 18 para 12 horas semanais) e redução da lista de utentes por médico de família (dos atuais 1.900 para 1.500).

Os médicos da região Sul e das Regiões Autónomas estão em greve desde as 00:00 de hoje, num dia de paralisação regional que já decorreu no Norte e que antecede um dia de greve nacional, prevista para 8 de novembro.

com Lusa