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© Samuel Mendonça

O teólogo Juan Ambrosio considera que o diálogo inter-religioso deve ser feito centrado no “pleno desenvolvimento humano e do bem comum”, até porque este é o critério para perceber quais os “gestos legítimos” dentro de cada tradição religiosa.

“Quando o diálogo inter-religioso é feito centrado em Deus e na minha relação com Deus torna-se não só quase impossível, como perigoso porque qualquer aproximação à posição do outro será sempre interpretado como uma cedência ao Deus em que acredito”, advertiu o professor da Universidade Católica Portuguesa nas XIV Jornadas de Ação Sociocaritativa da Diocese do Algarve que se realizaram no último sábado.

Ambrosio defendeu o diálogo feito a favor do “pleno desenvolvimento humano e do bem comum” porque “aquilo que o Deus das grandes tradições religiosas pede é sempre a intervenção em favor dos outros”. “O que eu tenho aqui é um plano de ação que posso trabalhar em conjunto”, considerou.

Neste sentido, o conferencista acrescentou que “sempre que os gestos de uma tradição religiosa atingem a dignidade humana e o bem comum quer dizer que já estão para além do que é legítimo e já entraram no campo da degradação religiosa”. “E é isso que está a acontecer com tudo o que estamos a ver nos últimos tempos”, complementou.

Juan Ambrosio deixou, contudo, uma advertência. “Não nos enganemos: nós já fizemos o mesmo”, lamentou, acrescentando que “também já se matou muita gente em nome do Cristianismo”. “O critério que Deus me aponta como limiar do que é legítimo ou não legítimo é o humano, o outro. Esse é o critério que o próprio Deus me está a dar para que eu tenha ali uma baliza de objetividade para perceber o que é legítimo ou não legítimo. Muitas vezes pensamos que o critério é a própria divindade em si, o que atinge a divindade. O que atinge a divindade é aquilo que atinge o desenvolvimento humano, a dignidade humana”, complementou.