Padre Miguel Neto

Nos últimos dias tenho sentido uma enorme tristeza, por muitas razões que não vêm ao caso, mas há uma sobre a qual me debruçarei hoje.

Entrou em funções o novo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump. As primeiras decisões que tomou foram decisivas na mudança de rumo desse país, que sempre assumiu funções de capitaneação do Ocidente:

• ao invés de proteger os mais fracos e necessitados, regressam a uma visão do mundo em que quem tem dinheiro tem direitos e quem não tem posses, não os tem – o sistema de saúde deixa desamparados milhares de cidadãos, que voltam a ficar reféns da capacidade de terem seguros e se não a tiverem…. Ficam à merce da boa vontade, da generosidade, do sentido de justiça de quem o tiver;

• ao invés de acolher – como sempre foi tradição de um país de imigrantes, em que toda a população de origem caucasiana e afro-americana e hispânica é proveniente de outras paragens, pois verdadeiramente americanos são apenas os índios (que, aliás, foram na sua maioria dizimados pelos colonizadores) -, os EUA fecharam as suas portas aos que procuram refúgio e aos que inclusivamente detêm vistos legais, mas são de países árabes.

E vemos manifestações e protestos, vozes de revolta… Acredito que em breve veremos, igualmente, as vozes de apoio e suporte a estas novas políticas, vozes que ciclicamente se fazem presentes neste país: os xenófobos racistas radicais, de grupos como o Kuk Lux Klan e outros, que aproveitam todas as abertas para mostrarem a sua vitalidade; os capitalistas radicais, que apenas querem dinheiro e consideram quem trabalha apenas e só como “mão de obra”, sem dignidade de pessoas; os pseudo políticos, que querem lugares de poder, para serviram os seus interesses. Todas as vozes se levantarão e todos se agitarão, dentro e fora do país. Mas as perguntas persistem a assolar-me e as respostas não são claras:

Como sair disto, se Trump foi eleito democraticamente? Que consequências terão os protestos, numa América onde as clivagens políticas, sociais, raciais nunca deixaram de ser agudas? Que relação terão os outros países com os EUA, em quem sempre procuraram apoio e segurança? A ver pela Inglaterra, tudo será suave e tranquilo…. Que acontecerá aos mais fracos, aos mais pobres, aos que são as periferias desta nação? Onde estavam as pessoas que deviam ter votado e não o fizeram, permitindo uma eleição tão perigosa?

O espetro da guerra civil nunca abandonou os EUA e todos sabemos que as diferenças espelhadas durante a Guerra de Secessão (1861 e 1865) voltam a vincar-se: norte e sul, brancos e outras nacionalidades, riqueza e pobreza, progressismo e conservadorismo, misantropia e humanismo…

Estamos destinados a viver dias de “Trumpalhadas”, dias de tristeza para quem acredita que o mundo deveria ser melhor e que os políticos são decisivos nesse processo.