Vivemos num mundo, onde a promessa inicial das redes sociais era democratizar a informação e conectar pessoas. Mas, ironicamente, o que observamos é precisamente o inverso: isolamo-nos em pequenas sociedades algorítmicas, fechadas em si mesmas, onde raramente somos confrontados com ideias que divergem das nossas. Este fenómeno, conhecido como “bolhas de filtro”, é alimentado por algoritmos que personalizam o conteúdo ao nosso gosto, reforçando crenças pré-existentes e limitando o nosso acesso a perspetivas diferentes.

Este isolamento digital tem consequências perigosas. Ao fecharmo-nos em mundos personalizados, perdemos o contacto com o contraditório, essencial para uma sociedade democrática saudável. Os algoritmos das plataformas sociais privilegiam conteúdos sensacionalistas, dirigidos à maximização da interação, frequentemente em detrimento do rigor jornalístico. Neste contexto, conteúdos duvidosos ou mesmo falsos ganham terreno, enquanto a informação crítica e bem fundamentada é marginalizada.

O resultado desta dinâmica é preocupante: uma fragmentação da esfera pública e uma polarização crescente. Sem exposição a opiniões divergentes, a capacidade crítica dos cidadãos enfraquece. A proliferação de narrativas falsas ou enviesadas, não sujeitas a contraditório, gera uma realidade distorcida que influencia decisões políticas, comportamentos sociais e até escolhas pessoais, como vimos recentemente com a rejeição de vacinas eficazes ou a desconfiança em instituições democráticas.

Este fenómeno não se limita apenas à esfera política ou social, mas estende-se também ao contexto religioso. Vemos surgir “bolhas eclesiais” em torno de influenciadores digitais, que frequentemente adotam posições extremistas, atacando lideranças institucionais, incluindo o próprio Papa. Esta postura enfraquece a unidade da Igreja e prejudica o diálogo interno, fragmentando a comunidade de fé.

Perante esta realidade, é urgente promover uma cidadania digital crítica e responsável. A educação para os media torna-se essencial para capacitar os cidadãos a discernir conteúdos, resistir à manipulação e reconhecer a importância do pluralismo informativo. É, igualmente, vital, que as plataformas tecnológicas sejam transparentes sobre o funcionamento dos seus algoritmos, permitindo maior autonomia aos utilizadores, na seleção dos conteúdos a que são expostos.

Para que as redes sociais cumpram o seu verdadeiro potencial democratizador, precisamos romper as bolhas algorítmicas. Só, assim, poderemos garantir um espaço digital aberto, plural e verdadeiramente democrático, onde a diversidade de ideias seja uma realidade e não apenas uma promessa vazia. Vivemos entre bolhas, sim, mas cabe-nos a responsabilidade de as rebentar e reconquistar um espaço público digital saudável, aberto ao contraditório e à diversidade, essencial para o futuro da democracia e da convivência social.