Foto © Samuel Mendonça
Foto © Samuel Mendonça

Uma década após o lançamento da iniciativa “Faro, Capital Nacional da Cultura 2005″, continua a ser difícil fidelizar o público algarvio, consideram agentes culturais locais, que tentam contornar a limitação orçamental com uma programação diversificada.

As entradas para os espetáculos no Algarve custam em média dez euros e as taxas médias de ocupação estão acima dos 50%, podendo haver “casa cheia” em espetáculos mais comerciais, mas pouco parece ter mudado nos hábitos do público algarvio desde a iniciativa Faro 2005, disseram à Lusa responsáveis pela programação cultural na região.

Para o diretor de A Companhia de Teatro do Algarve (ACTA), que gere atualmente em Faro o Teatro Lethes, o problema da formação de públicos não é novo, uma vez que se trata de um trabalho que exige “regularidade e persistência”, o que, considera, não tem acontecido em Portugal.

“Dizem as estatísticas que, em média, uma corrente de público demora cerca de dez anos a criar-se, mas para a destruir bastam três meses”, disse Luís Vicente à Lusa, defendendo que Portugal precisa de assumir a cultura “como um desígnio nacional”, aliando-a à educação e à ciência, e lamentando a constante mudança de direção na política cultural nacional a cada novo Governo.

Para o ator e diretor da ACTA, “não vale a pena andarmos a ‘depenicar’, por assim dizer, para ver o que é que surte efeito. Tem de ser [a formação de públicos] uma estratégia nacional e tem de colher o entendimento transversal a todo o pensamento político e isto ou é assim ou nunca mais lá vamos”.

O Teatro das Figuras, em Faro, é o maior espaço de espetáculos da região, com 765 lugares, e em 2014 registou o seu segundo melhor ano em termos de afluência, tendo recebido aproximadamente 37 mil espetadores num total de 120 sessões, o que se traduz numa média de afluência de público na ordem dos 57,7%.

Segundo disse à Lusa o diretor do Teatro das Figuras, Joaquim Guerreiro, os espetáculos de dança e música são os que têm as plateias mais preenchidas, consequência também de uma política de preços ligeiramente mais baixos do que aqueles que são praticados a nível nacional e de uma programação que quer chegar “ao maior número de público” possível.

O vice-presidente da Câmara de Faro, que gere a estrutura, disse à Lusa que o Teatro das Figuras “caiu abruptamente” quando a autarquia deixou de ter capacidade para investir na programação, o que acabou por conduzir à atual solução, em que as receitas e os riscos são, na maior parte das vezes, partilhados com os promotores.

“Obviamente, o serviço educativo não é rentável, estamos aqui a formar públicos. Temos sessões de cinema alternativo, como é óbvio não estamos à espera que essas sessões tenham sala cheia, mas temos de assumir que estamos a formar públicos para o futuro”, referiu Paulo Santos.

Quando foi inaugurado, em 2008, a afluência de público ao Teatro Municipal de Portimão (TEMPO) era maior do que é hoje, segundo o seu diretor, João Ventura, que atribui o decréscimo de público à situação económica nacional, sublinhando, contudo, que a média de afluência é, ainda assim, superior a 50%.

“Não programamos exatamente aquilo que queremos mas o que podemos. Isto torna o trabalho mais difícil, mas não podemos nunca perder de vista a necessidade de criar públicos com essência relativamente àquilo que veem e ouvem e ao mesmo tempo não perder de vista o objetivo de ter casas e salas com muita gente”, concluiu.

Já a programação do Auditório Municipal de Olhão (AMO), inaugurado mais recentemente, reflete também a falta de capacidade de investimento municipal em espetáculos, o que tem limitado a programação aos espetáculos em que existe uma partilha de bilheteira entre os promotores e o auditório.

“O pensamento do auditório foi sempre não excluir ninguém. Ir ao encontro das pessoas e não lhes dar só o que elas querem mas também aquilo que elas merecem, daí que tenhamos uma programação muito variada que tanto tem o erudito como o comercial”, explicou Carlos Campaniço.

Os programadores do Cineteatro Louletano querem que os louletanos sintam aquele espaço como seu, explicou a coordenadora Dália Paulo, dando como exemplo a aposta no serviço educativo, um programa semestral, concursos para interagir com o público, presença nas redes sociais e o acolhimento de eventos da comunidade.