Foto © Samuel Mendonça

Foi apresentado em Faro na passada quinta-feira o livro que analisa o Processo Judicial de Jesus da autoria de um advogado aposentado que foi também ex-presidente do Conselho Regional de Faro da Ordem dos Advogados.

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O lançamento da publicação de Valério Bexiga, intitulada “Processo Judicial de Jesus Nazareno – Reforma de Autos”, decorreu na sede do Conselho Regional de Faro da Ordem dos Advogados e foi apresentado pelo professor Joaquim Romero Magalhães e pelo procurador da República João Luís Gonçalves.

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Ambos destacaram o estudo exaustivo e a preocupação de desenvolvimento argumentativo de todas as perspetivas históricas e documentais sobre as circunstâncias que envolveram o processo de Cristo que a obra apresenta.

Romero Magalhães frisou que a obra “se estende, por vezes, a facetas e pormenores inesperados como o episódio de Barrabás, visto, revisto e recontado e, sobretudo, interpretado, episódios marginais cuja elucidação importou ao autor para esclarecer o ornamento central do livro, o que enriquece a narrativa e ilustra não poucos os aspetos em que se contêm os escritos vários que os sustentam”.

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João Luís Gonçalves considerou que o livro “está extremamente bem estruturado” e “reproduz muitas problemáticas do processo nas várias fases”, destacando tratar-se de “um documento muito completo”, no qual o autor “tem o mérito” e “preocupação real e histórica” de “descriminar questão a questão as várias perspetivas” e de “comparar minuciosamente as várias fontes que existem, acrescentando também a sua opinião”.

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Romero Magalhães considerou que o último dos três tonos que constituem a publicação “é o mais interessante e estimulante porque é onde se conta a história”. “O libelo acusatório teve natureza política. Iniciado pelos judeus e liderado pelo sumo-sacerdote, passaria ao Tribunal Romano, presidido pelo prefeito da Judeia, Pôncio Pilatos, por inerência governador da província”, destacou, considerando a “pena da morte por crucificação, a correspondente ao crime de sedição e, por isso, o título de Jesus nazareno Rei dos Judeus que é afixado no calvário”. “Essa sedição ou tentativa sedição é que tinha sido ofensiva, crime de lesa-majestade, e por isso constitui crime que levava à pena máxima à luz da ordem jurídica romana”, sustentou.

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Luís Gonçalves sublinhou que a “dicotomia entre poder local e poder central” está sempre presente ao longo das várias fases do julgamento e isso é abordado no livro. “Por exemplo, saber quem foi que mandou prender Cristo, se as autoridades religiosas ou Pilatos. Não há certezas absolutas e há várias dúvidas e o dr. Valério Bexiga descrimina os argumentos a favor de uns e de outros”, referiu, acrescentando que o autor procura saber quem julgou Cristo, “se foi Sinédrio (os judeus) ou os romanos” e aferir de que tipo de crime foi acusado, “se o crime religioso de blasfémia por dizer que é Filho de Deus, se o crime político por dizer que é Rei”.

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O procurador da República considerou que a questão do julgamento de Jesus, não obstante ter a ver com factos ocorridos há 2000 anos, “tem muito interesse porque Cristo, toda a gente reconhece, foi uma personagem que influenciou decisivamente a história”. “Por outro lado, a forma como o julgamento de Cristo foi descrito, nomeadamente na Bíblia, também trouxe problemas”, acrescentou, referindo-se às consequências para os judeus até aos tempos modernos, um dos aspetos que a obra aborda.

O livro do causídico algarvio aposentado é constituído por 1256 páginas e foi publicado o mês passado pela brasileira Juruá Editora.

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