O presidente da Câmara de Loulé anunciou no passado dia 25 de março que o convento de Santo António, propriedade da autarquia, vai ser alvo de um projeto de requalificação da autoria do arquiteto Gonçalo Byrne.
Vítor Aleixo, que falava na apresentação da publicação “Mãe Soberana: A Força do Amor”, adiantou que o edifício incluirá um museu dedicado a Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana, e um centro recuperação de imaginária. O autarca garantiu haver “uma ambição muito grande de valorizar” o imóvel, acrescentando que “está na altura de devolver àquele espaço a sua vocação original”, pensada por aqueles que o “idealizaram e construíram”.
Na mensagem que escreveu para o livro apresentado também se referiu ao projeto. “Numa parceria inédita com a Diocese do Algarve, o maior culto mariano do sul vai poder ser usufruído, estudado e divulgado num espaço próprio, o Convento de Santo António, que muito valorizará e enriquecerá o conhecimento e a visita a Loulé, colocando o concelho nas rotas do turismo religioso”, anunciou o presidente que já em 2015 manifestava o desejo de que aquele espaço fosse “reconvertido num centro de estudos marianos”.
Lembrando que a Câmara Municipal assinou em abril de 2016 um protocolo com a paróquia de São Sebastião de Loulé para cedência por 99 anos do antigo convento franciscano, o presidente referiu-se na apresentação do livro à “recuperação da envolvente ao convento até a ladeira da Mãe Soberana” que a autarquia pretende levar a cabo e que já em 2016 tinha sido anunciada. “O trânsito vai ser condicionado. O movimento que é feito por ali, de entrada e saída na cidade de Loulé, passará ser feito por outro eixo que há de ir mais atrás pela estrada de Vale Telheiro”, anunciou Vítor Aleixo sobre reconversão da circulação viária naquela zona.
Em declarações ao Folha do Domingo, o pároco de Loulé também já tinha explicado que a paróquia deverá investir cerca de um milhão de euros naquele projeto. Lembrando que o antigo convento “teve sempre uma relação muito estreita com o Santuário da Mãe Soberana”, o padre Carlos de Aquino justificou tratar-se de uma “valorização” daquele que é o principal santuário mariano no Algarve.
O sacerdote disse que o núcleo museológico incluirá um espaço para uma exposição permanente e outro para mostras temporárias e acrescentou que o projeto, para além do “centro de restauro do património e de recuperação do arquivo”, deverá contemplar um “espaço celebrativo”.
O padre Carlos de Aquino explica ainda que será criado um itinerário para os peregrinos com início na zona do convento, antes da subida da ladeira, cujo percurso pedonal será enriquecido com uma via-sacra e com uma proposta de valorização dos mistérios do rosário.
O prior acrescenta que o projeto compreenderá também a intervenção no próprio santuário, onde – para além da recuperação realizada nos últimos anos no exterior da ermida, na cobertura e nas suas pinturas interiores – deverá ser feita a construção de um espaço para acolhimento de peregrinos. No interior da igreja principal, o sacerdote explica que “toda a parte do presbitério vai ser também renovada” e que a intervenção terá em vista igualmente a valorização das capelas para a reconciliação e de espaços para celebração de sacramentos como o batismo ou o matrimónio. A remodelação terá também em vista “outra configuração” das sacristias e da capela do Santíssimo Sacramento e a requalificação do som.
O projeto está a ser executado, em parceria com o arquiteto da igreja, pela artista plástica Lígia Rodrigues (que já tinha trabalhado para aquele santuário), segundo confirmou a própria em recente entrevista ao Folha do Domingo, embora sem querer adiantar pormenores.
O presidente da Câmara adiantou também que a autarquia “vai criar as condições” para que, junto ao convento de Santo António, em terreno camarário, seja construído um hotel. “A Câmara vai convidar operadores hoteleiros para que, em determinadas condições que nós vamos definir quais elas são, possa ser construída ali uma unidade hoteleira para promover o turismo religioso”, anunciou o autarca.
A edificação do que resta do antigo convento que chegou até aos dias de hoje resulta de uma segunda fundação datada dos finais do século XVII.
Na primeira metade do século XVI, em 1546, foi fundado o primeiro convento da comunidade de frades Capuchos da Província da Piedade, da ordem religiosa de São Francisco, através de intercessão junto do papa Paulo III de Nuno Rodrigues Barreto, padroeiro do primeiro convento da Piedade que existiu em Faro. As obras iniciaram em 1546, e após alguns anos de ocupação este apresentava-se pequeno, limitado, e em mau estado de conservação. Os frades franciscanos procuraram outro local para erguer novo convento. A 11 de agosto de 1675 foi lançada a primeira pedra pelo bispo do Algarve, D. Francisco Barreto, num terreno doado por André de Ataíde. A 22 de junho de 1692, terminadas as obras, os frades mudaram-se para as novas instalações.
Após a extinção das ordens religiosas em 1834, o edifício do convento conheceu múltiplas utilizações. Entre estas destacam-se uma fábrica de curtumes e a sua utilização para habitação, até que na década de 80 do século XX foi restaurado o espaço da igreja que desde então tem servido para fins culturais.