Uma empresária que se tem dedicado a recriar peças tradicionais de vestuário produziu uma capa exclusiva para oferecer ao papa Francisco, inspirada no centenário das aparições e que vai ser expedida nos próximos dias para o Vaticano.

Lurdes Silva começou a idealizar a capa de asperges (também designada de pluvial) – usada para cobrir os ombros na liturgia católica – há dois anos, quando soube da ida do papa a Fátima, e após uma pesquisa sobre as vestes e as cores que Francisco pode usar decidiu fazer algo “o mais simples possível”, alusivo à visita ao Santuário e ao centenário.

Produzida integralmente em Portugal, a veste, de cor branca, foi feita à mão em algodão e cetim, contendo no forro um padrão bordado com a versão de Schubert da música “Avé Maria”, em latim, e duas simbologias: a estrela de oito pontas, contida no brasão papal, e a estrela de cinco pontas, ligada a Nossa Senhora de Fátima.

“O objetivo foi produzir uma capa repleta de simplicidade e com alma, que estivesse dentro do conjunto de vestes e das cores que são permitidas”, explicou à Lusa a empresária, fundadora da marca “Bioco Tradition”, revelando que enfrentou uma verdadeira corrida contra o tempo.

Apesar de ter começado a idealizar a veste há dois anos, Lurdes Silva só conseguiu estabelecer contacto com as pessoas responsáveis para fazer chegar a encomenda ao papa muitos meses depois e, só no final de março último, obteve autorização para fazer a entrega.

“Foi complicado, porque neste ‘timing’ é complexo fazer uma peça destas em algodão, as pessoas diziam-me que não havia tempo”, relatou a empresária, natural do Porto e que se estabeleceu no Algarve há vinte anos.

Um dia depois do regresso do líder da Igreja Católica a Roma – uma vez seria praticamente impossível fazer a entrega durante a visita -, Lurdes Silva deslocou-se a Fátima para entregar a encomenda, que será remetida através da Casa Pontifícia para o Vaticano.

A também professora de Marketing na Universidade do Algarve quis igualmente deixar uma mensagem, em português, ao papa Francisco, e em vez da tradicional etiqueta colocou na veste a frase “Que a mãe das mães ilumine o seu caminho”.

Todas as peças da marca, que nasceu há dois anos, são idealizadas por si com a colaboração da ‘designer’ Maria Caroço, um projeto que começou no final de 2014, com a realização de testes para reinventar uma antiga capa banida no século XIX no Algarve.

Proibido pelo Governo Civil de Faro em 1892, o bioco, capa preta que cobria então as algarvias da cabeça aos pés, foi a primeira peça a ser reinventada por Lurdes Silva, cuja filosofia é a de recriar peças do passado, aliando o ‘design’.

A empresária prepara-se agora para lançar uma coleção de écharpes, lenços e blusas também alusivas às comemorações do centenário de Fátima, com o mesmo padrão de que é feito o forro da capa oferecida ao papa, mas noutra cor.

Para esta estação, a empresária tem ainda outras duas novidades: uma blusa com a inscrição da Lenda das Amendoeiras em Flor e corpetes, inspirados nas peças do século XIX, mas mais fáceis de vestir.

“Não se tratam de produtos de grande consumo, porque a nossa filosofia se engloba no conceito de ‘slow fashion’, é tudo pensado, tudo tem uma história e são peças intemporais, além de ser tudo feito à mão e em Portugal”, resume.

As encomendas são normalmente feitas através do portal eletrónico da marca e da sua página de Facebook ou diretamente em certames ligados à moda e ao ‘design’ onde Lurdes marca presença, embora também já existam peças à venda em lojas, em Lisboa e no Algarve.

com Lusa