Foto © Samuel Mendonça

O padre Mário de Sousa disse no passado sábado que a “finalidade” do evangelho segundo São João é que, tal como o “discípulo amado”, ninguém se perca ou quebre o seguimento de Jesus”.

Na jornada de formação sobre os “Escritos de São João”, que teve lugar no Centro Pastoral e Social da Diocese do Algarve, em Ferragudo, promovida pela Diocese do Algarve através do seu Centro de Estudos e Formação de Leigos do Algarve (CEFLA), o sacerdote considerou que o testemunho do “discípulo amado” (que explicou ser o evangelista) convida constantemente o leitor a ser fiel a Jesus, “mesmo, e sobretudo, nos momentos incompreensíveis”.

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“Somos chamados a ser este discípulo ideal. O quarto evangelho desafia-nos enquanto discípulos, por isso aparecem também figuras que nos provocam”, acrescentou na jornada destinada primariamente aos alunos do Curso Básico de Teologia do CEFLA que foi participada por 76 pessoas, 41 destas estudantes daquele curso.

O formador, especialista no estudo daquele evangelista e diretor do CEFLA, lembrou que o versículo 35 do capítulo 19 é uma “passagem exclusiva de São João”, que frisou ser “central” na “apresentação da pessoa e do mistério de Jesus e, consequentemente, também central na decisão da fé dos discípulos”. “É uma passagem que não aparece nos [evangelhos] sinóticos e se ele a foi buscar foi porque sentiu que ela é importantíssima para aquela que era a finalidade do seu escrito”, afirmou, referindo-se à apresentação do corpo morto de Jesus na cruz feita por São João.

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O presidente da Associação Bíblica Portuguesa evidenciou que o evangelista “convida” os leitores a colocarem-se diante do corpo morto de Jesus para “entender a grandeza e a profundidade do seu mistério”. “O evangelista «pega o leitor pela mão», coloca-o diante do Senhor na cruz e convida-o a perceber que aquela morte não aconteceu por vontade dos judeus (como a dos outros dois [crucificados]), mas foi preparada ao longo do quarto evangelho para agora poder ser entendida”, afirmou.

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O biblista, que se deteve na descodificação da linguagem e toda a sua simbologia utilizadas pelo evangelista, destacou que o seu texto tem “duas grandes partes”: a primeira – a da vida pública de Jesus – até final do capítulo 12 e a segunda – a sua paixão, morte e ressurreição – do capítulo 13 até ao 28. Neste contexto lembrou que a Última Ceia ocupa um quarto (do capítulo 13 ao 17) do evangelho que tem 21 capítulos, sendo os capítulos 18 e 19 dedicados à paixão e morte e os capítulos 20 e 21 à ressurreição e às aparições do ressuscitado.

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“Depois de apresentada a pessoa de Jesus, apresenta-se a sua missão”, constatou o padre, lembrando que “São João estrutura o seu evangelho a partir das peregrinações de Jesus e das festas judaicas”.

O padre Mário de Sousa evidenciou ainda a legitimidade do evangelista. “Ele escreve porque tem uma autoridade para o fazer, não apenas por ter sido um dos discípulos, mas por ter sido o discípulo que se manteve fiel em todos os momentos, aquele que viu e, concomitantemente, acreditou”, afirmou, lembrando que “a autoridade do seu testemunho radica precisamente no facto de que presenciou tudo desde o batismo de João”.

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Na última parte da jornada, o formador referiu-se ao livro do Apocalipse do mesmo autor, detendo-se no seu simbolismo e nas chaves para a sua leitura, à semelhança daquilo que fizera na Jornada Bíblica de 2014. Recorde-se que em 2012 o padre Mário de Sousa também foi o orador da Jornada Bíblica sobre o evangelho de São João.