
O padre Carlos de Aquino exortou a Cáritas Diocesana do Algarve e as Cáritas paroquiais ao “amor-caridade”.
Segundo o assistente da Cáritas Diocesana do Algarve – que apresentou no I Encontro das Cáritas Paroquiais e Diocesana uma reflexão subordinada ao tema “Evangelizar o amor para se poder evangelizar na caridade” – o “amor deve ser evangelizado para se tornar caridade”.
Na iniciativa, que decorreu no passado sábado em Boliqueime, na igreja paroquial, o sacerdote explicou que “amor-caridade é amar como Jesus”. “E a gente só pode amar como Jesus, se formos de Jesus”, complementou, considerando que “muita gente ama no mundo, mas pouca gente ama com caridade” e que o fator diferenciador dos cristãos no trabalho sóciocaritativo deve ser o “amor-caridade”. “Quando digo amor-caridade, digo elevar essa realidade de amor ao nível e à profundidade com que Jesus deu a sua própria vida”, acrescentou.
“Torna-se urgente, para se evangelizar na caridade, aprendermos primeiro a transformar o nosso amor, mais de acordo com esta caridade de Jesus”, prosseguiu, considerando o que é necessário para “passar do amor à caridade”. “Implica crescimento do próprio amor, consciência de sermos amados por Deus e vontade também de O procurar amar na caridade”, frisou, lembrando que “evangelizar com esta caridade” é uma “dimensão constitutiva da missão da Igreja, expressão irrenunciável da sua própria existência”.
Por outro lado, destacou que o “amor-caridade” não faz aceção de pessoas, culturas ou raças. “É um amor desmedido. É para todos”, sustentou, acrescentando que aquele tipo de amor implica até amar os inimigos e “amar restituindo a liberdade e a dignidade”. “O objetivo do amor-caridade é que o outro recupere a sua autoestima, a sua identidade”, aditou, lamentando que, por vezes, as situações no apoio social se arrastem sem que se consiga restituir a liberdade e a dignidade aos beneficiários.

Neste sentido, o orador disse ser “preciso discernir qual o melhor «medicamento» para o problema não ficar ad aeternum”. “Estamos sempre a adiar o discernimento”, lamentou, explicando ser preciso “envolver-se” para “sentir com verdade a dor do outro”. “Envolver-se e acompanhar tem muito a ver com o discernir. Às vezes, as pessoas terão falta de alguma estrutura interior que as leve a saber gerir o pouco que têm, os seus bens, o seu dinheiro, a sua alimentação, os cuidados básicos de higiene”, acrescentou.
O sacerdote defendeu ser necessário anunciar Deus juntamente com as respostas às necessidades básicas. “Quantas vezes «damos» Deus naquilo que entregamos? Ao comunicar a caridade, para ser evangelizadora, devo comunicar Deus. Às vezes, estamos muito preocupados com o alimento e não nos preocupamos em «dar» Deus, a verdade que acaba por ser a mais importante para a libertação e para a resolução dos problemas”, afirmou.
Considerando que “fazer caminho com o outro” é o “desafio urgente no âmbito da evangelização hoje ao mundo”, o padre Carlos de Aquino apontou a outra face desse repto. “Enquanto a gente não for pobre, nunca servirá os pobres e haverá sempre pobres. Enquanto não formos felizes por sermos pobres, evangelicamente falando (o pobre não é o miserável, não é o que não tem teto, afeto ou alimento), não serviremos os pobres e haverá sempre pobres porque só um coração de rico é que cria pobreza e exclusão social”, advertiu com base na exortação apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho) do papa Francisco que serviu de apoio à sua reflexão.

O orador exortou então à descentralização e ao trabalho em rede, considerando que, mesmo entre os cristãos, “o trabalho em rede é muito deficiente”. “Hoje estamos muito centrados em nós próprios. As comunidades estão centradas em si mesmas, as pessoas centradas em si mesmas e falta comunhão”, lamentou, defendendo ser preciso caminhar “abertos à surpresa do Espírito [Santo]” e “dar o primeiro passo, ter a iniciativa”. “Estamos sempre à espera que os outros tenham a iniciativa, que os outros venham a nós. Às vezes, estamos acomodados e abancados”, criticou, desafiando à “iniciativa profética” de “ir à busca”.
O sacerdote também apelou à estruturação nesta área social, comparando com as dimensões da palavra ou do culto que considerou estarem bem estruturadas na Igreja, talvez por serem “muito visíveis internamente”. Neste sentido, frisou que o incremento da caridade “não é um jogo de estratégia ou de oportunidade ou de metodologia pedagógica de um plano pastoral”. “É a identidade mais profunda do que somos e devemos realizar”, evidenciou, lembrando que “só a caridade iluminada pela luz da fé e da razão torna possível também um autêntico desenvolvimento humano, uma sociedade mais humanizadora e a defesa inviolável dos direitos humanos e da vida”.