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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A ‘Luz da Paz de Belém’ chegou ao início da madrugada de hoje ao Algarve, vinda da vizinha Diocese de Huelva, em Espanha, trazida por uma comitiva com quase 40 elementos que participou na celebração de difusão da chama, presidida pelo bispo D. José Vilaplana Blasco no Santuário de Nossa Senhora da Cinta (Nuestra Señora de la Cinta), padroeira daquela cidade espanhola.

O contingente era composto por representantes dos agrupamentos 98 Faro, 1172 São Luís, 1201 Conceição de Faro, 1324 Sé, 100 Tavira do Corpo Nacional de Escutas (CNE) e do núcleo de São Luís (em formação) da Fraternidade Nuno Álvares Pereira, aos quais se juntaram ainda membros das paróquias de Olhão, de São Luís e de São Pedro de Faro, concretamente da comunidade de São Paulo do Patacão, e do Refúgio Aboim Ascensão, instituição que cedeu, uma vez mais, o seu autocarro para a viagem a Espanha.

Passava pouco das 16h30, quando os algarvios saíram de Faro, chegando a Huelva às 18h15 (19h15 locais).

Por volta das 20h teve então início a celebração no santuário espanhol, promovida pelos Escuteiros Católicos da Andaluzia, na qual o bispo do Huelva pediu aos presentes para levarem a cabo uma “operação positiva de contágio”. “A celebração da ‘Luz de Belém’ convida-nos a contagiar o amor, a paz, o bem”, precisou D. José Vilaplana Blasco, pedindo aos escuteiros e demais participantes naquela celebração que sejam responsáveis por partilhar aqueles valores, tal como partilham a chama que os simboliza. “Peçamos à Virgem Maria, nossa Mãe da Cinta, que nos ajude a contagiá-la com gestos simples”, acrescentou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O prelado, que começou por manifestar a “alegria” de receber a ‘Luz da Paz de Belém’, regozijou-se também com a presença, pelo sétimo ano consecutivo, dos “irmãos de Portugal” que todos os anos se juntam àquela celebração. “É para mim uma grande alegria poder estar convosco para vos entregar, mais uma vez, a ‘Luz de Belém’”, afirmou.

D. José Vilaplana Blasco fez questão de lembrar ainda a origem daquela chama. “Esta luz vem, como sabeis, de uma estrela de prata que está no chão da gruta de Belém, com 14 pontas que lembram as 14 gerações anteriores a Jesus Cristo. O centro da estrela, oco, é o ponto onde se pode tocar o solo e à volta pode ler-se: «Aqui, da Virgem Maria, nasceu Cristo». À volta dessa estrela, debaixo do altar, ardem sempre quatro ou cinco lamparinas de azeite. Todos os anos os escuteiros da Áustria vão buscar a luz dessas velas e essa luz vai sendo partilhada desde a Áustria por toda a Europa, chega até nós e, através de nós, chega às nossas famílias, paróquias, a idosos, crianças”, referiu.

“Que queremos celebrar com esta viagem que começa em Belém e acaba aqui, mas que daqui começa outra viagem? Que sejamos testemunhas do que aconteceu em Belém”, prosseguiu, acrescentando: “Deus fez-se pequeno, fez-se frágil, débil, para entrar no nosso coração. Deus não vem a nós como uma força de fora que nos domina”. “Ele vem para entrar no nosso coração e transformá-lo, fazer-nos participantes da sua vida. Que o nosso coração arda, brilhe e seja uma «lanterna viva» que reflete a voz de Deus onde quer que estejamos”, desejou.

O bispo espanhol contou ainda aos portugueses a história associada àquele santuário, através da explicação do quadro da padroeira na capela-mor, “pintado pelo amigo de um homem que era sapateiro”, e que “pelo Natal oferecia sapatos a crianças pobres”. “Vindo de Gibraleão, sentiu uma dor forte e pediu à Virgem para o ajudar. Tendo encontrado uma cinta atou-a e a dor passou. Pediu então a um pintor amigo que pintasse este quadro que tem uma curiosidade: a Virgem está muito bem vestida e o menino está nu, mas com uns sapatinhos de ouro. O pintor explicou ao amigo que os sapatos de ouro eram os que ele punha ao Menino Jesus, quando calçava os pés dos pobres”, contou.

Aproveitando a história, D. Vilaplana Blasco reforçou o desafio da noite aos presentes. “Quando pomos sapatos no pé de um pobre, quando fazemos uma visita a uma pessoa que precisa, quando nos fazemos presentes a uma pessoa débil, é a Cristo mesmo que o fazemos. Transmiti a luz, o amor e o carinho especialmente às pessoas necessitadas porque esse carinho chegará até ao Menino de Belém”, concluiu, desejando a todos um “Feliz Natal”. “Sede luz aonde quer que leveis a ‘Luz de Belém’”, acrescentou no final da celebração que terminou quase às 20h30 (hora local, menos uma em Portugal).

Após, a homilia, o bispo de Huelva passou a chama a dois Lobitos (escutas entre os 6 e os 10 anos de idade, pertencentes à I secção do CNE) do Agrupamento 98 de Faro, e de seguida a todos os restantes representantes algarvios.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Depois do jantar, a comitiva algarvia regressou a Faro, trazendo a ‘Luz da Paz de Belém’ para o Mosteiro de Nossa Senhora Rainha do Mundo, no Patacão, onde chegou por volta das 00h15, sendo aguardada pelas irmãs Carmelitas Descalças que ficaram como suas guardiãs.

A chama, que ali pernoitou e ali permanece, será levada esta noite por um representante de cada agrupamento que foi a Espanha para a igreja de São Pedro de Faro, onde às 21h30 será entronizada para uma celebração com a Cáritas Diocesana do Algarve que a levará amanhã para a manifestação pública pela paz a realizar em Loulé no âmbito da campanha de Natal “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”.

Niklas Lehner, de 11 anos, foi a criança escolhida este ano para ir no passado dia 28 de novembro recolher a luz na igreja da Natividade, em Belém • Foto © ORF

A tradição da ‘Luz da Paz de Belém’ foi iniciada há cerca de 25 anos, na Áustria, resultante de uma ação caritativa a favor de crianças portadoras de deficiência e de pessoas carenciadas, promovida pela televisão pública austríaca. Desde então, todos os anos uma criança daquele país é convidada a recolher a luz da igreja da Natividade e, a partir de uma celebração ecuménica realizada em Viena, a distribui-la pela Europa, acompanhada de uma mensagem de paz. Desde 1990 muito difundida pelos escuteiros, a ‘Luz da Paz’ é atualmente recebida em cerca de 35 países.

Por sugestão da comunidade de São Paulo da paróquia de São Pedro de Faro, o Agrupamento 98 do CNE começou em 2011 a ir à Diocese de Huelva buscar a luz. Aquele agrupamento escutista da paróquia de São Pedro estendeu depois o convite a outros do Algarve e, nos últimos anos, é cada vez maior o grupo dos que adere à iniciativa.

A ‘Luz da Paz’ é também, há 13 anos, recebida na Câmara de Albufeira, no âmbito do Acordo de Geminação que a cidade mantém com a sua congénere austríaca de Linz e que representa a aproximação das duas cidades e a solidificação de valores de amizade e solidariedade.

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