Dezoito anos depois de ter entrado na Companhia de Jesus e seis depois de ter chegado ao Algarve, o padre Frederico Cardoso de Lemos realizou o seu compromisso definitivo, no passado dia 18 deste mês, na igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Portimão.

Na eucaristia, após a consagração e antes do momento da comunhão, ajoelhado diante do Santíssimo Sacramento sustido pelo superior provincial da Companhia de Jesus, o sacerdote jesuíta fez três votos: pobreza, castidade e obediência. De pobreza, prometendo não possuir nada em nome próprio, mas tudo em comum com a comunidade; de castidade, prometendo não viver para uma mulher e filhos, mas para um amor universal, estando disponível para todas as pessoas a qualquer hora; e voto de obediência, ou seja, de disponibilidade para partir para onde for mais preciso.
Realizou ainda um quarto voto de “disponibilidade especial” ao Papa, este de obediência ao pontífice para o poder enviar para qualquer missão que julgue necessário.

“A formação na Companhia de Jesus é um processo longo”, explicou o padre Nuno Tovar de Lemos, superior da comunidade jesuíta algarvia de Nossa Senhora da Estrada, lembrando que o padre Frederico de Lemos “já se comprometeu com Deus há muitos anos”, mas que esse compromisso adquiriu um cunho definitivo naquela eucaristia e que também a Companhia de Jesus se compromete com o sacerdote. “É um dia de festa para todos nós, para a paróquia”, assegurou.
Os últimos votos de um jesuíta marcam, de facto, o final de um longo tempo de formação e “representam a incorporação definitiva e solene na Companhia de Jesus”, explica o instituto. A formação jesuíta de padres e irmãos inclui depois da ordenação as etapas de ‘Magistério’ e de ‘Terceira Provação’, que dura entre seis e oito meses. Esta última foi realizada pelo padre Frederico no último ano pastoral de 2020/2021 no México.

O superior provincial explicou que a presença de tantos naquela eucaristia pretendeu agradecer “pela presença de Deus na vida do padre Frederico”, “pela maneira como vive, com a sua postura prudente, pausada, com a sua sabedoria, com a sua capacidade de serviço”.
O padre Miguel Almeida explicou os votos perpétuos, realçando que “são pela positiva”, “para o serviço”, e não “pela negativa”, no sentido de “não ter isto ou aquilo”. “O padre Frederico vai dizer aqui, diante de Jesus Cristo sacramentado e de nós todos, que entrega a sua vontade, afetividade e todos os seus bens e pede a Jesus que o liberte dessas prisões. Ele vai dizer que faz voto [de obediência] a Deus através de pessoas humanas, que certamente se vão enganar. Isto é um ato de grande confiança, de que Deus não o abandona. É um grande ato de fé e, por isso, o faz na comunidade porque precisa do suporte da vossa oração. Ele vai dizer que entrega a afetividade e sexualidade nas mãos de Deus. Não vai dizer que não quer casar, não é isso. É muito mais do que isso. Não casar é só uma das consequências. Vai dizer que entrega todo o seu coração nas mãos de Deus e pede a Deus que o liberte dos seus egoísmos afetivos. E vai dizer, finalmente, que abdica do seu desejo de posse pelo voto de pobreza”, afirmou.
“O padre Frederico é arraçado de santo, mas terá algumas dificuldades na vida, imagino. Portanto, ao fazer estes votos ele não está a dizer: «eu nunca mais vou falhar nisto». Ele está a dizer a Deus do desejo profundo de lhe entregar estas três dimensões da sua vida e de lhe pedir ajuda para lhe ser fiel”, prosseguiu, explicando ainda o voto de obediência direta ao Papa.

“Que estes votos, que de alguma maneira também sejam um convite a cada um de nós para nos desinstalarmos, nos questionarmos: «como é que está a minha entrega? A minha liberdade interior? O meu comodismo e o meu egoísmo? Do que é que tenho de ser liberto?»”, interpelou.
O padre Nuno Tovar de Lemos, que dirigiu umas palavras em nome da paróquia de Nossa Senhora do Amparo, emocionou-se. “Estou cheio de sentimentos”, gracejou o sacerdote. “Não somos máquinas e, portanto, não é indiferente quando alguém se vai embora”, acrescentou, manifestando “uma alegria enorme” pela Companhia de Jesus e pelo padre Frederico que disse já ter “feito tanto bem ao longo destes seus anos de padre”. “Conhecem o padre Frederico, a sua prudência, o seu bom senso, a sua calma, o seu juízo acertado. E as muitas conversas que temos numa comunidade de jesuítas são uma dádiva enorme”, concluiu.

Por fim, e após as palavras do bispo do Algarve que esteve no final da missa, o padre Frederico de Lemos agradeceu a Deus, à sua família, aos amigos, à Companhia de Jesus, à Diocese do Algarve e ao seu bispo, às paróquias de que foi pároco e ao padre Mário de Sousa, em representação de todo o clero diocesano do Algarve. “Foi uma experiência nova e muito desafiadora estar numa zona que é geograficamente periférica do país. Acho que aqui há uma não-sofisticação que facilita muito a vida e as relações e isso agradeço porque para mim foi uma novidade e espero levar comigo para o resto da vida”, afirmou, agradecendo à comunidade o contributo para a sua formação como jesuíta. “Aqui aprendi a ser padre. Espero continuar um padre a aprender a ser melhor padre”, concluiu o sacerdote que presidiu às restantes quatro missas do fim-de-semana para se poder despedir de todos os paroquianos.
Após a celebração concelebrada por muitos padres jesuítas (incluindo os do Algarve) e pelo padre Mário de Sousa, vigário da vara da vigararia de Portimão e pároco da vizinha paróquia da matriz daquela cidade, e participada por dois diáconos da diocese algarvia, por um grupo de rapazes jesuítas em formação e pela família e alguns amigos do padre Frederico, seguiram-se os “votos de sacristia”. O padre provincial explicou que estes significam o compromisso de “não procurar dignidades eclesiásticas” dentro ou fora da Companhia de Jesus, de “informar a quem de direito se souber de alguém que ande à procura dessas dignidades”, “e “não mudar o estatuto de pobreza” e de só aceitar uma nomeação para bispo “por obediência” e, ainda assim, ouvindo sempre o “conselho do padre geral”.
O padre Frederico de Lemos, que era pároco das paróquias de Nossa Senhora do Amparo de Portimão e da Mexilhoeira Grande, juntamente com os restantes sacerdotes da comunidade jesuíta algarvia, foi agora trabalhar na Diocese de Coimbra.