Foto © Samuel Mendonça

O padre Nuno Tovar de Lemos lembrou aos consagrados – sacerdotes, irmãos ou irmãs, pertencentes a um(a) instituto/congregação religioso(a) – a trabalhar na Igreja do Algarve que o “essencial” da sua congregação não é o que fazem, mas o amor com que vivem a sua vocação.

“É, antes de mais nada, um amor muito grande por Jesus. Tudo o resto vem depois disso”, sustentou aquele sacerdote, também ele membro de uma congregação – os sacerdotes da Companhia de Jesus (jesuítas) – na celebração do Dia do Consagrado que foi realizada no Algarve no passado dia 5 deste mês no colégio de Nossa Senhora do Alto, em Faro.

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“Devo fazer o que tenho a fazer por amor a Jesus e não para que alguém me agradeça ou para que os outros reparem”, advertiu na exegese que apresentou, partindo da frase de São Pedro a Jesus – “Ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei” –, alertando para as “mágoas que se transformam em «quistos» à volta do coração e que «congelam» a capacidade de amar”. “Quando «congelamos» o amor no nosso coração, Deus tem muita dificuldade em entrar”, avisou.

O sacerdote considerou, assim, que “Jesus não precisa de pessoas perfeitas, mas de pessoas apaixonadas”. “O Senhor, antes de mais, chama-nos a sermos pessoas apaixonadas”, salientou, lembrando que os votos que fizeram (de pobreza, castidade e obediência) “são formas de viver apaixonadamente” e que “deixar de amar, nega tudo”.

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Neste sentido, advertiu que a pobreza é o “primeiro reflexo” da paixão dos consagrados. “A nossa pobreza não é não termos muito. É vivermos desprendidamente e termos pouco e darmos testemunho no mundo que se pode viver com pouco”, complementou.

Por outro lado, destacou que o voto de castidade é um “voto do amor universal, ou seja, viver uma relação tão forte de amor com Jesus que depois se viva para amar os outros, sobretudo os que mais precisam, os mais fracos”. “A falta de castidade é preocupar-me só como é que os outros me estão a tratar e isso não permite dar-me a eles e ser Cristo ressuscitado para as pessoas que estão ao meu lado”, acrescentou, alertando para o perigo da preocupação consigo mesmo que leva a não ter disponibilidade para amar os outros.

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“Ao nosso voto de obediência, se calhar, devíamos chamar voto de disponibilidade. Não é só a disponibilidade para sermos enviados através dos nossos superiores. É o voto de disponibilidade dentro da paróquia de deixar um trabalho e assumir outro ou dentro de casa”, completou, defendendo a vantagem da mudança.

O orador acrescentou igualmente que Deus também “não precisa de profissionais”. “Nós somos as mãos, a voz, o sorriso de Jesus ressuscitado, mas também há o perigo de nos transformarmos em profissionais”, alertou, exortando ao sorriso. “O amor passa pelo sorriso”, justificou.

O sacerdote desafiou os consagrados a serem “aqueles que se estimulam uns aos outros” em vez de serem “aqueles que se vigiam uns aos outros”. “Temos de ter cuidado porque às vezes, em vez de sermos guardadores dos nossos irmãos, somos polícias”, explicou. “A maravilha da vida consagrada é tentarmos, com a graça de Deus, ter um bocadinho de céu já na terra. Deus não me chama a amar anjos, mas a amar seres humanos limitados, pecadores, carentes”, prosseguiu.

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O padre Nuno Tovar de Lemos pediu ainda aos religiosos que aprendam a unir as suas “fragilidades” e as suas “feridas” à cruz de Cristo, advertindo que a vitimização é uma “maneira errada” de se lidar com as “feridas”. “Quando abraço as minhas feridas com Cristo, fico mais sensível às dores e às feridas dos outros, fico mais humano. Quando abraço as minhas feridas também posso ficar mais confiante e mais unido a Deus. Quem se abraça bem à cruz vai com a cruz para a ressurreição”, afirmou.

O orador alertou os religiosos para onde põem a sua segurança afetiva. “Nós, seres humanos, precisamos de segurança afetiva. Portanto, se não a pomos em Deus, vamos pô-la noutro lado”, alertou, defendendo ainda que “onde estão os consagrados tem de estar a alegria”. “Se começarmos a ficar amargos, não pode ser. Não fiquemos na amargura. Temos de ser exemplo de alegria, de doçura”, completou, advertindo também para o perigo da demissão.

A terminar, o jesuíta, que considerou que a consagração religiosa é uma “graça muito grande” que Deus dá “para bem do mundo”, lembrou que o amor de Deus por cada um “não é só afetivo, de sentimentos, mas é efetivo, prático”. “«Ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei». Quem diz isso, em primeiro lugar, é o próprio Deus que, de facto, não nos abandona nem nunca nos abandonará”, frisou.