© Samuel Mendonça
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O padre Anselmo Borges afirmou em Loulé que o fundamentalismo religioso do Médio Oriente é consequência da I Guerra Mundial e da colonialização europeia dos islâmicos que se lhe seguiu.

“Todos os países islâmicos foram colónias europeias e há ali um enorme ressentimento. Aquilo que era preciso era o mundo islâmico tomar a atitude do mundo europeu. O mundo europeu autonomizou-se e cresceu quando percebeu que há a autonomia das realidades terrestres e a própria Bíblia deve ser lida de modo crítico e não fundamentalista. Eles chegam a esta situação de menoridade, de inferioridade, de exploração e de colonialismo e dizem: «Nós chegámos aqui porque fomos infiéis à letra do Alcorão». E temos o fundamentalismo”, referiu o sacerdote que apresentou uma conferência na passada sexta-feira no salão nobre da Câmara Municipal sobre o tema “Valores e Liberdade: Que Fé?”, no âmbito do ciclo “Antes e Depois. Para Amanhã”, incluído no programa de cidadania da Comissão Concelhia 25 de Abril, instituído por unanimidade pela autarquia.

O orador, que lembrou haver também “fundamentalismo no Judaísmo e no Cristianismo” e “fundamentalismos não apenas do tipo religioso”, defendeu a necessidade de diálogo interreligioso. “Ninguém possui a verdade toda. O diálogo interreligioso é necessário porque, face ao mistério último de Deus, ninguém detém o fundamento. Nós estamos sobre o fundamento mas ninguém detém o fundamento. Neste sentido, ser fundamentalista é uma questão de ignorância ou de estupidez”, advertiu.

© Samuel Mendonça
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O sacerdote lembrou que “o diálogo é mais do que a tolerância porque a tolerância ainda pressupõe uma certa superioridade”. “O diálogo tem de pôr-se num plano de igualdade porque, face ao infinito, estamos todos equidistantes”, sustentou.

Neste sentido, o conferencista só admite intervenções armadas perante o “intolerável”. “Numa situação limite vejo uma intervenção armada. Tem de haver instâncias, nomeadamente a ONU, que dêem o mínimo de justificação colectiva para impedir este intolerável”, afirmou, desejando nesta situação o “máximo de legitimação por parte da comunidade internacional”.