Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa © Samuel Mendonça
Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa © Samuel Mendonça

O presidente da Cáritas Portuguesa disse no Algarve que se não fossem as instituições de solidariedade social teria havido gente a morrer de fome durante a atual crise.

“Garanto que, se não fosse a Cáritas e muitas outras instituições como a Sociedade de São Vicente de Paulo, o Banco Alimentar contra a Fome ou a Cruz Vermelha, haveria gente que teria morrido mesmo de fome. Não sei se alguém chegou a morrer de fome em Portugal. Sei que há muita gente que ficou com a saúde mais debilitada por não ter acesso a uma alimentação condigna com os nutrientes suficientes”, disse Eugénio Fonseca aos estudantes na passada segunda-feira, durante a apresentação do projeto “Cria(C)tividade” na Universidade do Algarve.

Referindo-se, sobretudo, a condição de saúde de idosos e crianças, aquele responsável lembrou que “aumentou a pobreza infantil em Portugal”. “Temos de enfrentar isto com toda a determinação porque isto também tem reflexos muito graves nos recursos”, exortou, lembrando que “o Estado teve um desígnio que foi o de resolver o problema da dívida” e apenas “criou uma ou outra medida social com impactos que não chegaram a todos os que estavam em situação de privação material”.

Neste contexto, aludiu ao conhecido proverbio chinês garantindo que “a Cáritas lutou nos últimos quatro anos por dar o peixe em vez da cana”. “Frequentemente ouvimos dizer a pessoas com responsabilidade que preferem medidas que levem à atribuição das canas e não àquelas que se limitam a dar o peixe. A Cáritas assumiu isto com toda a consciência porque canas não havia”, frisou, acrescentando que “se não se fizesse isto havia gente a morrer, de facto, de fome porque há famílias onde hoje não entra um cêntimo se não for através da solidariedade”.

© Samuel Mendonça
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Eugénio Fonseca criticou também a ideia transmitida pelo Governo de que terão sido criadas muitas empresas durante a crise. “Vocês ouvem o Governo dizer que, no tempo de crise, se criaram muitas empresas, mas o número de empregados que essas empresas aceitaram ficou muito aquém do número de desempregados que ao mesmo tempo foram lançados na sociedade”, afirmou.

Aquele responsável lembrou ainda que “alguns têm optado pela imigração”. “Preocupa-me muito isso porque estão a imigrar, contrariamente àquilo a que aconteceu no tempo dos vossos pais e avós, pessoas altamente qualificadas. E Portugal precisa dessas pessoas para prosseguir na senda do progresso”, lamentou, lembrando ainda aqueles que “têm um handicap muito sério para o mercado de trabalho” pelo facto de terem mais de 40 anos. “Segundo dizem os entendidos na matéria, a maior parte destes milhares de pessoas, a quem se passou a rotular de desempregados de longa duração, ficarão na situação de desemprego porque, previsivelmente, só 10 a 20% poderá encontrar trabalho por conta de outrem”, completou, lembrando que essa realidade “está a mudar”. “Felizmente que agora está a haver uma transformação no ensino, mas durante muitos anos o ensino foi formatado para que os alunos aplicassem os seus conhecimentos sempre sobre a responsabilidade de outros, por emprego criado por outros”, lamentou.

Por tudo isto, o presidente da Cáritas Portuguesa quis deixar uma “mensagem que outros têm dito ao contrário”. “A crise ainda não passou, nem sequer o pior dela ainda passou. Quando se ouve dizer que o pior da crise já passou, vamos estar com muita prudência esperançosa, mas o pior da crise ainda não passou que são os seus impactos”, concretizou.

“Neste momento podemos ter menos fluxo de gente nos nossos atendimentos sociais porque o desemprego diminui, mas temos hoje mais necessidade de recursos do que, por ventura, tínhamos há dois anos porque hoje as mesmas pessoas vêm mais vezes à Caritas solicitar apoio”, contou.