A celebração que uniu a manifestação pública da campanha de Natal da Cáritas ‘10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz’ e a distribuição da ‘Luz da Paz de Belém’, partilhada pelo Corpo Nacional de Escutas (CNE), realizada no Algarve na última sexta-feira à noite, 15 de dezembro, na Sé de Silves, deixou o apelo a que os algarvios sejam “semeadores de esperança”, “protagonistas da revolução da caridade” e “agentes de paz”.

Celebracao_10_milhoes_estrelas_luz_paz_belem_2023_3
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O primeiro desafio foi proposto pelo bispo do Algarve, que presidiu à iniciativa que partilhou a chama recolhida da gruta da basílica da Natividade, na Palestina, o local atribuído ao nascimento de Jesus, primeiro até à Áustria e depois daquele país até Viana do Castelo, onde decorreu este ano a cerimónia nacional da sua partilha. D. Manuel Quintas começou por explicar o simbolismo daquela luz, que considerou “um abraço desde Viana [do Castelo] ao Algarve” e que levou o país a ficar todo iluminado.

Celebracao_10_milhoes_estrelas_luz_paz_belem_2023_10
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Esta luz tem muito significado e quem lhe dá o significado foi Aquele que disse de si mesmo: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não anda nas trevas»”, afirmou, explicando ser Jesus “que dá o significado a esta luz que se acendeu na noite de Belém e que quer brilhar sempre naquela terra, mas particularmente neste ano de morte, de destruição, de miséria, de fome, de sede”. “Não há palavras que possam descrever a atrocidade que uma guerra provoca, particularmente onde uma percentagem muito elevada de crianças estão a perder a vida cada dia”, lamentou, evidenciando a “contradição” que aquela chama também transporta consigo.

Celebracao_10_milhoes_estrelas_luz_paz_belem_2023_18
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Acrescentando que Jesus “veio para ser luz” e para que todos também o fossem “com a luz dos gestos fraternos e solidários”, lamentou que a humanidade prefira “caminhar às escuras”. “Preferimos as trevas à luz. Parece que nos sentimos melhor a caminhar na sombra ou mesmo na noite”, lastimou.

Sobre a campanha de Natal da Cáritas, o responsável católico realçou que “a pequena quantia que se dá por uma vela”, “acende uma luz de esperança na vida de tanta gente”. “É essa luz que devemos ser e é a isso que nos convida o Natal”, referiu.

O bispo do Algarve lamentou ainda a tentativa de descolar a celebração desta quadra festiva do significado cristão que originou a mesma. “Por mais que queiram abafar imagens alusivas ao Natal, como presépios nas ruas, ficam satisfeitos quando acendem luzes. Mas não há gesto que fale mais do Natal do que as luzes. E é muito difícil celebrar o Natal sem luz. Ver uma luz é Jesus que está por detrás dessa luz para que nós sejamos também essa luz, é espalhar a mensagem de Natal através dessas pequenas luzes, é semear Jesus por esse mundo fora”, afirmou, desafiando os presentes a serem “semeadores de esperança, de gestos pequeninos que são luz para tanta gente”.

Celebracao_10_milhoes_estrelas_luz_paz_belem_2023_16
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Vamos procurar ser essa luz que o Senhor quer que sejamos. E mesmo que a vela exterior se apague, sabemos que a interior — do pequeno gesto da boa ação, de um sorriso, de uma atitude de perdão, de aconchego — é sempre uma luz que se acende no nosso coração, no coração de quem a pratica e também no coração de quem a recebe. O Natal será tanto mais feliz quanto mais iluminado for por esta luz de Belém e por aquilo que ela significa na nossa vida”, concluiu.

O segundo desafio foi lançado pelo presidente da Cáritas Diocesana do Algarve. Carlos de Oliveira, que também sublinhou que a Luz de Belém é o próprio Cristo que “chama a todos a iluminar o mundo com os valores da paz, da justiça e da solidariedade”, os mesmos que lembrou nortearem a campanha ‘10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz’. “Falar de paz nos dias que correm é trazer para o nosso imaginário as guerras que neste momento assolam muitos países dos mundo”, lamentou, garantindo que “um quarto da população mundial vive em países afetados por conflitos de violência”, dos quais não chegam imagens.

Celebracao_10_milhoes_estrelas_luz_paz_belem_2023_20
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A essa realidade, aquele dirigente juntou as “situações de conflito e inquietação” no foro interno como a “violência doméstica, o abuso sexual, os ciberataques, a discriminação psicológica, entre outras” e lembrou que a paz existirá “quando todos os povos possam viver em segurança e sem medo”, “confiar no sistema de justiça” e tiverem “garantia da alimentação, habitação e ambientes saudáveis para todos”, o “direito e oportunidade de trabalho”, “liberdade religiosa, não havendo comunidades cristãs perseguidas”.

Celebracao_10_milhoes_estrelas_luz_paz_belem_2023_26
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Lembrando que os “desafios complexos” da paz são responsabilidade de “pessoas, famílias, grupos, organizações e comunidades”, aludiu à “construção de um mundo de amor” como “realidade que transforma”, abrindo os seus protagonistas a “ajudar aqueles que são os mais frágeis”. “A Cáritas, como instituição da Igreja na nossa diocese com particular atenção para os mais frágeis, apela para que cada membro da nossa Igreja do Algarve tenha uma verdadeira abrangência no cuidado para com os outros que, para além do compromisso de cada um, haja manifesta vontade nas nossas comunidades paroquiais em participar em iniciativas de voluntariado e, com o nosso trabalho, possamos fazer os irmãos felizes, cuidando com compaixão dos mais fracos, especialmente os pobres, os doentes, os excluídos, os abandonados, os sem-abrigo, os sem-teto, procurando lutar todos pelo bem comum”, desenvolveu, apelando a que todos sejam “protagonistas da revolução da caridade” e possam “fazer parte duma civilização mais justa e mais fraterna”.

O terceiro desafio foi deixado pelo chefe regional do CNE. João Ramalho advertiu que mais importante do que receber é partilhar aquela luz, que considerou “tão poderosa e luminosa, capaz de transformar os corações de todos aqueles que se têm de desafiar a mantê-la acesa”. “Pedimos que partilhem esta luz com todos, que a façam chegar muito para além dos locais onde tenham por hábito partilhar. Pedimos que levem esta luz que é Cristo a todos aqueles que abram as suas portas a este símbolo de paz, solidariedade, esperança e que, nos tempos em que vivemos, tanto ao mais significado ganhou”, exortou.

Celebracao_10_milhoes_estrelas_luz_paz_belem_2023_21
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O dirigente escutista também considerou que “construir a paz não é tarefa exclusiva dos governos ou organizações internacionais, mas sim de cada um”. “Cada boa ação que praticamos por menor que seja faz a diferença nesta missão de sermos construtores da paz. O compromisso deve começar dentro de nós mesmos, cultivando os valores como o respeito, a compaixão e a tolerância”, sustentou, sublinhando o “poder transformador” das boas ações. “Cada gesto de bondade, cada ato de solidariedade, cada palavra de incentivo pode ser um passo em direção à construção da paz. Vamos comprometer-nos em ser agentes de paz”, pediu, lembrando que “também a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais são fundamentais para garantir um futuro pacifico para as próximas gerações”. “A nossa ação consciente e responsável em relação ao meio ambiente é uma contribuição valiosa para a paz global”, concluiu o chefe regional que lembrou que no próximo ano, a 15 de dezembro de 2024, a cerimónia nacional de receção da ‘Luz da Paz de Belém’, vinda da Áustria, terá lugar no Algarve para ser partilhada com todas restantes regiões do país.

João Ramalho agradeceu ainda às duas escuteiras algarvias que integraram o contingente português que foi à Áustria em representação da região e aos que integraram a comitiva regional que foi depois a Viana do Castelo. As duas escuteiras, embora não tenham podido estar presentes, enviaram o seu testemunho, a contar a viagem de carrinha de cinco dias até à catedral de Linz e o “contra-relógio” de “25 horas seguidas” para regressar a tempo a Viana do Castelo.

“A cerimónia foi, sem dúvida, um momento que ficará para sempre nas nossas memórias, não só pelo frio que se fazia sentir naquela catedral, mas principalmente pela vontade de espalhar a luz pelos mais diversos cantos do mundo”, escreveram Inês Alberto, do Agrupamento 413 – Ferragudo, e Maria Santos, do Agrupamento 1324 – Sé de Faro, garantindo que, “ao contrário do que muitos pensam”, “a ‘Luz da Paz de Belém’ veio sempre acesa nas muitas velas” que levaram. “Esta luz que temos hoje connosco é muito frágil, apaga-se com um simples sopro, mas se for mantida com cuidado é capaz de dar esperança, força e iluminar os nossos caminhos nos momentos mais difíceis e obscuros. Tal e qual como a paz. Se não cuidarmos dela não a conseguimos manter durante muito tempo”, destacaram.

A chama, entronizada na antiga catedral às escuras, foi depois partilhada pelos representantes dos 30 agrupamentos escutistas presentes, das paróquias e por particulares e ontem e hoje tem estado a ser distribuída nas diversas paróquias e comunidades do Algarve a todos os que a queiram levar para casa.

Celebração que une a campanha de Natal da Cáritas à ‘Luz da Paz de Belém’ realiza-se em Silves