Vai ser assinado amanhã, 11 de dezembro, o protocolo de colaboração interinstitucional entre a Diocese do Algarve, o Município de Faro e a Universidade do Algarve (UAlg), para criação do Núcleo Museológico da antiga Tipografia União.

A cerimónia de assinatura do acordo vai ter lugar pelas 9h15 no Museu Municipal de Faro e a autarquia explica que o mesmo “tem em conta a existência de um conjunto significativo de bens culturais de reconhecido interesse histórico e cultural, pertencente à antiga Tipografia União (1909-2013), localizada na Vila Adentro de Faro, e propriedade da Diocese do Algarve”.

“A colaboração entre as várias entidades pretende realizar, entre outras iniciativas, a inventariação do património documental, bibliográfico e industrial ligado à Tipografia União; desenvolvimento de investigação integrada das fontes históricas relacionadas com a cultura impressa no território de Faro e Algarve dos séculos XV e XXI; valorização e divulgação do património tipográfico; criação de uma infraestrutura digital em acesso aberto; valorização e aproveitamento turístico cultural do património material e imaterial relativo à cultura impressa”, acrescenta a nota divulgada pela Câmara de Faro.

A autarquia acrescenta ainda a “contribuição para um planeamento integrado de valorização do património localizado na Vila Adentro de Faro, ancorado na ideia de «cidade do conhecimento», em harmonia com as boas práticas das smart cities e descentralização e diversificação dos interesses e as fontes de pesquisa, formação e fruição culturais, aumentando a atratividade e participação científico cultural da região, fortalecendo a dinâmica cultural e criativa da cidade”.

A intenção de criação de um núcleo museológico no espaço da antiga tipografia da diocese foi anunciada em julho de 2017 pelo bispo do Algarve. D. Manuel Quintas anunciou, durante a apresentação de uma reedição ‘fac-simile’ do primeiro livro impresso em Portugal, que a Diocese do Algarve estava a estudar, juntamente com a Câmara de Faro, a possibilidade de criação de um museu da imprensa nas instalações da antiga Tipografia União que chegou a ser responsável até à primeira metade do século XX pela impressão de quase todos periódicos editados na região. “Temos lá máquinas que me disseram serem únicas em Portugal, ligadas à impressão de Folha do Domingo. É um espaço que precisa de investimento para ser restaurado”, adiantou na altura.



O desejo foi repetido na inauguração da “Exposição para a Difusão do Conhecimento – Núcleo Histórico da Imprensa de Gutenberg e do Pentateuco de Faro” na antiga capela do Paço Episcopal, em novembro de 2018. “É nosso propósito abrir ao público os espaços de azulejaria em colaboração com o Cabido e o Museu da Sé e prosseguir o aprofundamento de um projeto de recuperação da zona em que esteve instalada a Tipografia União, bem como o seu recheio tipográfico em vista da sua ulterior abertura ao público, enquanto futuro Museu da Imprensa”, afirmou D. Manuel Quintas.


Naquele dia, e à margem daquela inauguração, também Guilherme d’Oliveira Martins, então coordenador nacional do Ano Europeu do Património Cultural 2018, em declarações aos jornalistas, se referiu à importância de criação de um museu da imprensa na antiga tipografia, lembrando que “falar da Tipografia União é falar de Folha do Domingo” em alusão ao facto de a gráfica ter sido criada para impressão, primeiramente do Boletim do Algarve (1910-1913) e a partir de 1914 do jornal da diocese algarvia, seu sucedâneo, naquele ano fundado (ler texto abaixo).


No dia da abertura do Paço Episcopal de Faro ao público, em abril de 2019, o assunto voltou a ser referido. O vigário geral da Diocese do Algarve destacou que aquela abertura aconteceu num contexto de disponibilização do património diocesano ao público. “Começou com a abertura da antiga capela, agora passa para a própria residência do bispo e o atual bispo sonha que a antiga Tipografia União há de ser um dia o Museu da Imprensa. Queiram os responsáveis que mandam, ajudar-nos para que esse sonho se torne realidade”, afirmou o cónego César Chantre.


O estudo do núcleo museológico da antiga Tipografia União, realizado pela UAlg, ao qual Folha do Domingo teve acesso, realça que a antiga gráfica, que funcionou entre 1909 e 2013 na rua do Município, em plena Vila Adentro, no casco histórico da cidade de Faro, “representa um marco da edição contemporânea do Algarve” e “mantém um acervo tipográfico e industrial de especial relevo, vindo mesmo a ser cobiçado por outros espaços museológicos” do país. “O desafio desta coleção é levar-nos a descobrir e a perceber quem escreve, porque escreve e como escreve nestes lugares do Sul e ao longo dos tempos, e o papel que Faro ocupou neste Sul de escritas”, refere o documento, lembrando a importância do bispo D. Francisco Gomes do Avelar no século XIX, quando “Faro revive uma intensa atividade tipográfica” e “um alargamento das estruturas tipográficas por vários pontos do Algarve”.


“A evolução da capacidade tecnológica, a classe tipográfica, o sistema de produção do impresso, o público-leitor são algumas das temáticas que poderão estar na base do desenho de um espaço museológico central para a história da cultura escrita impressa no Algarve, mas também no país, que devem ser amplamente conhecidos e divulgados”, acrescenta o documento.

![]() O projeto O projeto, que incluirá um “laboratório do impresso”, visa a criação de um “museu inclusivo”, “vivo”, “intergeracional” e “intercultural” para permitir o “encontro entre cultura de escrita e religiões” e “multissensorial”, para ajudar a percorrer o itinerário da “escrita do passado, do presente e do futuro”, tendo em conta a sua evolução e suportes. Assim, deverá conduzir o visitante desde os primeiros escritos aos primórdios da escrita impressa no Algarve – com referência à comunidade judaica e ao Pentateuco, passando pela edição sem a tecnologia (séculos XVI-XVIII), pela reintrodução da atividade tipográfica no Algarve de 1800 e a sociedade de então (tendo presente a tipografia no Algarve e D. Francisco Gomes de Avelar) no avanço global das estruturas de impressão; pelo Algarve de 1900; pelo Algarve do século XXI, a escrita e o digital – até ao futuro, tendo presente a revolução digital, as questões climáticas e ambientais. |
“Manter um acervo tecnológico como a Tipografia União é algo de muito importante”